sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

“Estou saindo da adolescência”, diz Ângela Rô Rô, 65 anos

A música popular brasileira é conhecida mundialmente por gênios como Tom Jobim, Chico Buarque e João Gilberto. Mas entre tantos homens de extirpe está Ângela Rô Rô, compositora do clássico “Amor, Meu Grande Amor“, regravada em 1997 por Frejat, e dona de um dos discos que faz parte do hall de clássicos da música brasileira, o homônimo “Angê-la Ro Rô'' de 1979. Canções como “Gota de Sangue'', “Não Há Cabeça'' e “Agito e Uso'' consagraram sua carreira que carrega uma extensa lista de regravações e parceiras com grandes nomes como Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Marina Lima. Completando 65 anos, a cantora continua sendo um ícone com sua voz rouca inconfundível e a personalidade forte de uma mulher que nunca teve medo de dizer o que pensa. “Essa é aquela hora em que as pessoas que tem a sorte de ter um emprego estão comemorando a aposentaria'', disse a artista em tom bem-humorado em entrevista ao UOL. “Eu, como minha vida é de circo, não tenho carteira assinada e nem INSS, estou comemorando 65 anos de alegria''.

Além da fama conquistada pelo talento, Rô Rô também foi protagonista de diversos escândalos devido seu envolvimento com drogas e álcool nos anos 80, além de também ter sido a primeira mulher assumidamente homossexual no meio musical brasileiro. Atualmente, o período nebuloso foi deixado para trás, e totalmente sóbria sóbria e em plena atividade, a cantora passa por um bom momento na carreira. “Quando a idade chega, a voz normalmente desce o tom. Isso acontece até mesmo com as melhores cantoras do mundo. Mas eu, sinceramente, nunca cantei melhor.'' Mas a sobriedade e distanciamento de esncândalos não tiraram a sagacidade de Ângela Rô Rô que critica a geração atual que mesmo com pleno acesso a informação permanece inerte em relação a alguns assuntos. “Quando eu era jovem a gente não tinha informação, mas hoje parece que os jovens não estão querendo saber de nada. O sexo ainda é tido como um tabu, mas não um tabu com pudor, é naquela base do 'vamos fazer escondido qualquer coisa''', disse se referindo as pesquisas atuais que apontam a grande contaminação do jovem pelo vírus da AIDS. “Assim como a legalização do aborto tem que ser feita com muita sensatez, coisa que eu acho que o mundo não está preparado ainda.'' Sendo um dos ícone da vertente chamada 'artistas malditos' por abordar temas bôemios e ousados, assim como Maysa Monjardim, em suas canções, a cantora cita John Lennon para explicar a fascinação dos poetas pela mulher em suas composições. “John Lennon disse em uma de suas músicas que “a mulher é o escravo do mundo''. É vítima do machismo e também tem o machismo encruado dentro dela. Essa inspiração dos poetas ao se declararem é o prêmio de consolação, porque na prática é bem diferente''. Sobre a música brasileira, Ângela Rô Ro é só elogios. “Temos Caetano Veloso, Gonzaguinha, Chico Buarque, Lobão... É tanta gente bacana. Desde Chiquinha Gonzaga, o que não falta no Brasil é talento''. E também relembra o aniversário de 20 anos da morte de Tom Jobim. “Jobim é excelente. Tem uma estirpe que vem de Debussy. Tem o Heitor Villa Lobos e aí vem o Jobim.” Divulgando seu último disco lançado, “Feliz da Vida'', a cantora segue fazendo shows com os hits antigos e músicas novas mostrando que o auge também pode ser aos 65 anos. “Estou comemorando a minha saída da adolescência para o inicio da mocidade”, finaliza.

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