quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ESTREIA-"Cisne Negro" revela sonhos e pesadelos de uma bailarina

Desde seu filme de estreia, "Pi" (1998), o diretor Darren Aronofsky não ia tão longe num mergulho na psicose como ele faz em "Cisne Negro", um dos mais sinistros retratos do mundo do balé desde "Sapatinhos Vermelhos" (1948), da dupla inglesa Michael Powell e Emeric Pressburger.
O drama "Cisne Negro", que estreia na sexta-feira em circuito nacional, concorre a cinco Oscars, incluindo melhor filme.Da maneira como o filme é cuidadosamente conduzido, o espectador é levado a compartilhar a visão de mundo de Nina Sayers (Natalie Portman, favorita ao Oscar de melhor atriz e vencedora de vários prêmios, como o Globo de Ouro e o do Sindicato dos Atores, pelo papel). Junto com ela, enxerga-se os fantasmas e delírios da delicada bailarina, que ganha o cobiçado posto de protagonista do balé "Lago dos Cisnes".O papel exige da intérprete que o executa não só perfeição técnica, o que Nina certamente domina, como uma dualidade psicológica avassaladora. Aparentemente, sua natureza frágil e tímida, na qual toda sensualidade e agressividade estão severamente reprimidas, só encontra as chaves para interpretar a virginal princesa Odete, o Cisne Branco. A Odile astuciosa e pérfida, o Cisne Negro, resta oculta e dormente, em algum ponto perdido de sua psique, que ela precisa desesperadamente despertar.Esta impressionante viagem ao mundo interior de uma jovem bela e neuroticamente frígida, em pânico diante da possibilidade de entrega física e emocional, tem inúmeros pontos de contato com "Repulsa ao Sexo" (1965), de Roman Polanski - em que Catherine Deneuve interpretava a mulher psicoticamente dividida, ilhada em seu apartamento.Atriz talentosa e dedicada, Natalie Portman supera não poucos obstáculos, inclusive físicos, para interpretar solidamente esta Nina trágica, que desperta piedade e medo quase ao mesmo tempo. A atriz rompe suas fronteiras e sua imagem, não hesitando numa cena de masturbação, nem em outra de sexo lésbico - que, na verdade, são as que menos impressionam.É quando traduz a dualidade extrema desta mulher fraturada que não encontra sua síntese que Natalie exprime o melhor de sua arte. Seu sofrimento transpira humanidade, força, demência, amargura, e a impressionante solidão ao ir até um lugar onde absolutamente ninguém pode segui-la.
Ao seu lado, um competente quarteto de atores contribui decisivamente para o resultado: o francês Vincent Cassel ("À Deriva"), na pele do diretor da companhia que a pressiona e quer conquistá-la, sem decifrar seu tumulto interior; sua mãe (Barbara Hershey), que procura criar um halo de proteção para sua criatura, mas exagera na dose; sua colega e rival, Lily (Mila Kunis, "O Livro de Eli"), que funciona como um contraponto da jovem sensual e livre que Nina não sabe ser. E Beth McIntyre (Winona Ryder), a assustadora veterana que a precedeu no papel e enlouquece quando tem de aposentar-se da companhia - prenunciando um sombrio futuro para as bailarinas mais velhas.Sem a fotografia contrastada de Matthew Libatique e a montagem áspera de Andrew Weislum - ambos indicados ao Oscar -, este pesadelo barroco jamais poderia completar seu espectro. Se "Cisne Negro" passa como um turbilhão, certamente, é porque todos estes componentes se ajustaram da maneira mais consistente. Darren Aronofsky parece estar no melhor de sua forma e poderia, sim, conquistar este ano seu primeiro Oscar como diretor. "Cisne Negro" concorre também como melhor filme.(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
"Cisne Negro" é metáfora para processo destrutivo da arte, diz diretor
FERNANDA EZABELLA/FOLHA
DE LOS ANGELES

Não é apenas um coque de cabelo que une o personagem dilacerado de Mickey Rourke em "O Lutador" (2008) e a bailarina perfeccionista de Natalie Portman em "Cisne Negro", que estreia amanhã no Brasil. Ambos os filmes de Darren Aronofsky também terminam num salto coreografado e tratam de artistas que perderam a noção dos limites.
"São complementares", disse Aronofsky, indicado ao Oscar de melhor direção por "Cisne Negro", que também compete pelo prêmio de melhor filme, montagem, fotografia e atriz para Portman.
"São dois artistas que usam os corpos para se expressar e fazem um tremendo estrago nele no processo. A diferença é que um é alta cultura e o outro é baixa, se é que se pode chamar de cultura", continuou o diretor para jornalistas, em Hollywood, no fim do ano passado. Enquanto Rourke encarava o suado mundo da luta livre, Portman enfrenta a elitista companhia de balé de Nova York. Ela é escolhida para estrelar uma montagem de "O Lago dos Cisnes" e acaba numa série de paranoias. "O filme é uma metáfora para o processo destrutivo da arte", explica o roteirista Mark Heyman. É um thriller psicológico, com cenas de terror mais ao final, o que fez com que alguns reclamassem do retrato negativo feito do balé. Aronofsky responde que seu filme é, de fato, mais apurado que outros do gênero. "Muitos bailarinos ficaram aliviados por se tratar, finalmente, de um filme sobre a arte do balé, e não do balé apenas como cenário para um romance", disse o diretor, que também dirigiu "Réquiem para um Sonho" (2000) e "Pi" (1998).
O acesso à companhia de Nova York tampouco foi fácil. "Eles não dão a mínima para nada além de balé. Foram bem indiferentes e pouco amigáveis", lembrou. "Levou um bom tempo para conseguir permissão."
Quem ajudou na tarefa foi o coreógrafo francês Benjamin Millepied, principal bailarino da casa e responsável pelas sequências de "O Lago dos Cisnes" para o filme. Ele também aparece como parceiro de dança de Portman. "Desde o começo, Darren dizia que queria que a câmera fosse um terceiro bailarino", disse Millepied. Millepied e Portman, que começaram a namorar no set, hoje estão noivos e grávidos. A atriz passou um ano treinando para a personagem, com rigorosos ensaios diários, e é a favorita para ficar com o Oscar de melhor atriz, após ser premiada com o Globo de Ouro e pelo sindicato dos atores dos EUA. "Você não precisa exigir muito de Natalie porque ela é incrivelmente disciplinada. Raramente reclama. É durona", disse o diretor.
CISNE NEGRO
DIREÇÃO Darren Aronofsky
PRODUÇÃO EUA, 2010
COM Natalie Portman, Vincent Cassel e Winona Ryder
ONDE estreia amanhã nos cines Belas Artes, Bristol, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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