quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

'Insensato Coração' se destaca com atuações e cenários impecáveis

'Insensato Coração' tem boas atuações. Foto: TV Globo/Divulgação Antônio Fagundes e Paola Oliveira estão entre os grandes nomes do elenco de 'Insensato Coração'
Foto: TV Globo/Divulgação
 
Mariana Trigo /O Dia
 
A estética sofisticada de Gilberto Braga se sobressai desde os detalhes da produção de Insensato Coração às entrelinhas dos diálogos. E o que a torna ainda mais envolvente são as atuações viscerais comandadas pelos olhos atentos de Dennis Carvalho. Sob sua batuta, não só as cenas e marcações merecem destaque, mas a individualidade percebida na direção de cada ator em cena. Este casamento artístico se firma desde o primeiro sucesso televisivo de Dennis, Dancin' Days, exibida no final da década de 1970. De lá para cá, esta convivência se lapidou por diversas produções, como Vale Tudo, Anos Rebeldes e Paraíso Tropical. Em Insensato Coração, no entanto, ambos parecem estar na Idade da Razão artística. Com timbres que se afinam desde a escalação, direção de arte, cenografia e figurino como numa bem ensaiada orquestra que permite ousadias em diversas linhas.
No entanto, um dos equívocos tem sido o excesso de repetições em algumas tomadas. Muitas cenas causam náuseas pela overdose de ângulos com câmaras no ombro e um exagero de trilhos que, muitas vezes, causam tonturas em quem assiste. Na tentativa mais conceitual do cinema para a TV, como a câmara na mão, por exemplo, o tiro saiu pela culatra. Mas este erro parece se diluir quando o foco da produção se volta para a iluminação. A sofisticada luz mais sombria causa um interessante desconforto de suspense às tomadas que envolvem o vilão Léo, de Gabriel Braga Nunes. O ator, recém saído da Record, apesar de convencer como o mau-caráter da história, não consegue passar verossimilhança nas cenas "românticas" com Norma, da impecável Glória Pires. Nem com toda a ingenuidade de Pollyanna da personagem é possível acreditar na faceta de bom-moço de Léo.
No mesmo núcleo, Antônio Fagundes tem merecido reconhecimento após anos vivendo personagens com o mesmo tom do tosco Pedro, de Carga Pesada. Finalmente o veterano voltou às origens com Raul. Com cenas embriagadas de emoção, principalmente quando se depara com a personalidade nada confiável do filho Léo, ou quando descobre as fragilidades de caráter de sua mulher Wanda, interpretada pela ótima Natália do Vale, Fagundes se sobressai em seu solo que tem roubado muitas cenas.
Os destaques se dividem. Mesmo com a traiçoeira tecnologia HD, que maximiza não só os acertos, mas principalmente os equívocos de cenografia e produção de arte, a equipe da produção, com cenários bem acabados, interessantes achados em objetos de design e personificação em diversos ambientes tem conseguido demonstrar a personalidade dos núcleos e personagens através dos ambientes sem exageros ou clichês. Um deles é o requintado apartamento de André, papel de Lázaro Ramos, que foi todo decorado pelo arquiteto Edgar Moura Brasil - companheiro do autor, Gilberto Braga.
Dentre o luxo dos ambientes que parecem ter sido decorados a partir de feiras de design de Milão, se destaca também o cenário da família de classe média da vilã Eunice, de Deborah Evelyn. Na verdade, Deborah tem sido um dos pontos altos da trama e surpreendido com uma vilã absolutamente humanizada, interesseira e com nuances constantes de desejos de ascensão social, que se estendem por quase toda a família problemática que está prestes a se mudar de Florianópolis para o Rio. Com exceção da veterana Bete Mendes, que tem feito de sua Zuleica um dos maiores luxos da trama. A simplicidade convincente de sua atuação chega carregada de emoção a cada cena.
Insensato Coração - Globo - Segunda a sábado, às 21h.

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