Cena do documentário "Elza"
A particularidade de seu timbre rouco - que ela garante ter moldado enquanto carregava latas d’água na cabeça na favela - e sua versatilidade na emissão de voz e divisão das notas é tema de conversas e depoimentos de colegas declaradamente apaixonados pela cantora: como Maria Bethânia, Caetano Veloso e Paulinho da Viola, que cantam com ela músicas como "Morena Rosa", "Samba da Benção", "Sei lá Mangueira" e "A Flor e o Espinho".
A interpretação destas e outras magníficas canções é, em boa parte, prazerosa. Mas o tom excessivamente celebratório e até a extensão dos números musicais, que ocupam boa parte dos 80 minutos do filme, chega a cansar. Num documentário que, em si, não é longo, este sentimento de que se arrasta é um sinal de erro de abordagem. Elza é uma personagem múltipla, vulcânica, difícil de captar - e o filme parece muitas vezes ter-se perdido neste caleidoscópio que ela é, ganhando tempo com as canções - que colocam em foco a extraordinária riqueza da MPB, tantas vezes desprezada pela maioria das emissoras de rádio.
As melhores definições da esplêndida cantora vêm pela boca do cantor e compositor Paulinho da Viola - que a compara a Billie Holiday e Dalva de Oliveira, duas outras que "incomodaram da melhor maneira" -, do pesquisador José Miguel Wisnick (uma "roqueira do samba", referindo-se à sua recusa de ficar restrita ao gênero, em que ela brilha como poucas) e do violonista João de Aquino, perfeito quando afirma que quem quiser entendê-la tem que entender o canto dela.Todos esses comentários são ótimos, mas percebe-se que as entrevistas com a própria Elza não renderam tudo o que deviam. Salvam-se alguns momentos preciosos, quando ela comenta o quanto ama improvisar e porque "não vai jogar a toalha nunca". Ainda bem.
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