Prestes a comemorar 69 anos em maio, a transformista Rogéria desfila há pelo menos 50 anos no Carnaval carioca. Mas a veterena de carnavais no Rio não vai sair na avenida em 2012, apesar de ter sido convidada para "repetir a dose" na São Clemente, escola em que, em 2008, desfilou como a rainha louca numa homenagem à chegada da corte portuguesa ao Brasil. Ela liderou a comissão de frente da escola no papel de dona Maria, a Louca, mãe de dom João VI. “Estava perfeito, meu interesse não é ser mulher, é parecer e ter talento artístico”, contou Rogéria, nome artístico de Astolfo Barroso Pinto, em entrevista ao
UOL.
Rogéria não frequenta mais blocos de carnaval, mais pela falta de tempo, admite. “Não dá mais para brincar de bicha maluca vestida de mulher. Tenho muito trabalho no Carnaval. Eu sou aposentada, mas não do showbiz”, disse a artista que se define como a “Sharon Stone do Brasil”.

No meu primeiro concurso de fantasia, quando tinha 8 anos, em Niterói, a minha mãe comprou uma fantasia de índio com penacho e, em vez de ir de índio, eu fui de índia. Eu já era artista
Rogéria, veterana da folia no Rio“Eu sou do Carnaval do tempo que tinha rancho e o desfile das sociedades. No meu primeiro concurso de fantasia, quando tinha 8 anos, em Niterói, a minha mãe comprou uma fantasia de índio com penacho e, em vez de ir de índio, eu fui de índia. Eu já era artista”, lembra Rogéria, que já viveu épocas áureas em desfiles de carnavalescos como Oswaldo Jardim, conhecido como o “Rei da Espuma”, e Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, na década de 70.Quando tinha 16 anos, Rogéria ia fantasiado de tirolês com calção e suspensório. “Aos 21 anos subi no palco e passei a me vestir mulher. O dia que eu me vesti de mulher foi com uma roupa rosa, um tailleur. Eu esperava o ano inteiro para me vestir de mulher no carnaval no Teatro da República, três dias só era muito pouco. Se eu não fosse artista, não teria nada a ver viver de mulher. Não quero ser bonitinha, quero apenas ter um personagem forte para interpretar”. Rogéria foi o único homem a ganhar o Prêmio Mambembe de melhor atriz em 1979 pelo espetáculo que fez ao lado de Grande Otelo com direção de Aderbal Freire Filho.Nas próximas semanas, a transformista participará da coroação da rainha gay no Carnaval de Angra dos Reis, no domingo (12), da entrega o prêmio Orilaxé, um dos eventos do AfroReggae com tema sobre diversidade sexual, na próxima terça (14), do Concurso de Fantasias do Jockey Club, na Gávea (16), no Baile do Copacabana Palace, no sábado de Carnaval (18) e no Gala Gay no Jockey, na terça-feira de Carnaval (21).Com a agenda cheia, Rogéria não deve desfilar no Sambódromo. “Quero aproveitar para descansar, não tenho tempo na agenda”. A transformista encerrou esta semana as gravações do programa “Preliminares”, de direção de André Barcinski, exibido todas as quartas-feiras à meia-noite no Canal Brasil. O programa já fez um ano e entrará na sua segunda temporada. “Saí como madame Rogéria, muito legal, é claro que é um programa de sacanagem”, brincou.
"O samba perdeu a melodia"
Do tempo das marchinhas, Rogéria tem boa memória dos versos que fizeram sucesso nas décadas de 50 e 60. Uma que marcou a sua história de carnavais naquela época foi a composição “Mamãe eu levei bomba” muito cantada pelos foliões e tocada pelas rádios, de autoria de Jota Júnior e Oldemar Magalhães, lançada por Dircinha Batista.
“Mamãe eu levei bomba
Mamãe eu levei bomba
Pela primeira vez
Filhinha, filhinha
Filhinha, querida
Foi francês?
Foi português?
Não sei, mamãe, não sei
A prova foi tão dura, mamãe
Que eu naufraguei!
Agora, não adianta chorar
O remédio é estudar.”
Rogéria também canta de cor “
Me leva / Me leva / Para o paraíso agora / Se estou com muita roupa / Eu jogo a roupa fora”.Já dos carnavais, o que marcou a memória de Rogéria foi o campeonato do Salgueiro em 1963 com o samba “Chica da Silva” de Noel Rosa de Oliveira e Anescar Rodrigues. Rogéria canta de cabeça: “Apesar de não possuir grande beleza / Chica da Silva / surgiu no seio da mais alta nobreza”. “O samba perdeu melodia, não se faz mais samba como antes”, lamenta.
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