Atores transformistas de Fortaleza produziram o 'Translendário'.
Reproduções de imagens cristãs foram criticadas na Assembleia do Ceará.
No
mês de abril, "O Último Truque" faz referência ao quadro "A Última
Ceia", de Leonardo da Vinci. (Foto: Translendário/Divulgação)
O grupo “As Transvestidas” lançou no Ceará
um calendário com 12 imagens em que atores transformistas aparecem em
obras clássicas e cenas populares. Nas páginas dos meses de janeiro a
dezembro do “Translendário”, como é intitulado o trabalho, há releituras
das pinturas “Mona Lisa” e “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, e da
escultura Pietà, de Michelangelo. A presença da logomarca da Prefeitura
de Fortaleza na publicação gerou polêmica na Assembleia Legislativa do
Ceará nesta terça-feira (8), mas o município diz que não apoiou
financeiramente o calendário. Um deputado estadual considera o
calendário um ''desrespeito'' aos cristãos. (Veja as 12 páginas do calendário)
Carmen Miranda está no mês de fevereiro, em
“Disseram que voltei Trans-Operada”.(Foto: Translendário/Divulgação)
“A ideia do 'Translendário' foi fazer um produto com qualidade que
pudesse levar uma imagem positiva do universo trans. Uma imagem
diferente da lama e da prostituição”, explica um dos idealizadores do
projeto, Silvero Pereira.De acordo com o ator, produtor e professor, o nome diferente para o
calendário surgiu para fazer alusões ao objetivo do produto e “às
travestis como lendas da nossa cultura”. A escolha das 12 imagens não
foi fácil, segundo Silvero Pereira, e discutida em reuniões com os
produtores durante os dois anos que o projeto foi idealizado.“Queríamos uma visibilidade positiva e, com uma boa fotografia,
produção e design, pensamos em obras clássicas que fossem referência
para as pessoas, que já fizessem parte do imaginário coletivo”, afirma.Com referências do mundo LGBTT, o mês de agosto do “Translendário”
traz, por exemplo, a “Transvênus”, uma releitura da obra “O Nascimento
de Vênus”, de Sandro Botticelli. A capa clássica do disco “Abbey Road”,
do The Beattles, também é lembrada no mês de julho na versão
“Crossdressroad”. A famosa “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci,
transformou-se em “Mona”, e a cantora Carmen Miranda é retratada com as
tradicionais cores e pose e o título “Disseram que voltei
Trans-Operada”.“Disseram que voltei Trans-Operada”.(Foto: Translendário/Divulgação)
Pintura clássica de Da Vinci ganha versão "Mona"
em calendário. (Foto: Translendário/Divulgação)
Segundo o idealizador, foram impressos 400 exemplares que, desde
janeiro, são distribuídos em eventos e ONGs ligadas ao movimento LGBTT. O
"Translendário" também pode ser comercializado pelo valor de R$ 10, mas
a venda está suspensa, de acordo com Pereira, depois que o calendário
recebeu críticas na Assembleia Legislativa do Ceará. "Queremos
esclarecer qual é o objetivo do nosso trabalho", diz.em calendário. (Foto: Translendário/Divulgação)
Polêmica
O deputado estadual Fernando Hugo (PSDB-CE) apresentou o “Translendário” na manhã de terça-feira (8) no plenário da Assembleia Legislativa afirmando que as imagens o fizeram se sentir desrespeitado como cristão. “Eles [grupo LGBTT] que tanto querem respeito, deviam primeiro respeitar”, disse o deputado em contato com o G1 nesta quarta-feira (9).
Segundo Silvero Pereira, o calendário traz releituras de obras de arte. "Não tem nada a ver com religião. É uma releitura artística, das obras de arte, assim como é feita em outras artes. Michelangelo e Da Vinci nem católicos eram", diz.
Com cenas cristãs, como a Pietà, calendário
causou polêmica. (Foto: Translendário/Divulgação)
Outra crítica do deputado é a impressão da logomarca da Prefeitura de
Fortaleza na primeira página dos calendários. Fernando Hugo informou que
já entrou com uma ação no Ministério Público pedindo explicações sobre o
tipo de apoio dado pela Prefeitura de Fortaleza ao calendário.causou polêmica. (Foto: Translendário/Divulgação)
“O que é desalentador é que a prefeitura lamenta tanto a falta de dinheiro para investir e destina de modo fácil e rápido recursos para uma publicação assim”, disse o deputado, completando, “é um gasto de dinheiro do povo numa publicação que nada produz de educativo. Quero saber qual o fundamento. Qual o beneficio que ele trará ao povo de Fortaleza?”.A Prefeitura de Fortaleza informou, por meio da Secretaria de Direitos Humanos, que o Translendário não recebeu apoio financeiro do município e a marca da gestão foi utilizada indevidamente pela organização. "Todo o investimento foi feito pelo grupo (As Trasvestidas) e realizado com apresentações artisticas", afirma Silvero Pereira."A ideia de colocar logomarca da Prefeitura foi uma decisão minha em agradecimento às ações e parceiras desenvolvidas pela Coordenadoria da Diversidade Sexual. Por isso, coloquei como apoio", diz. O artista acrescenta que o grupo deciciu retirar a primeira página do calendário que contém a referência à prefeitura municipal.Segundo o produtor cultural, os valores dos cachês e da renda da bilheteria de espetáculos encenados pelo grupo foram destinados para a produção do calendário que não contou com verba da Prefeitura. O custo do produto, segundo Pereira, variou entre R$ 2.000 e R$ 2.500 e os envolvidos no projeto não cobraram pelo trabalho.
Apesar de criticar a presença da logomarca “Fortaleza Bela” na publicação e criticar a forma como o conteúdo foi apresentado, Fernando Hugo disse não ser contra o público LGBTT ou manifestações pela diversidade sexual. “Porém, como cristão, sem ser piegas ou carolista, posso dizer que os travestis desrespeitaram o mundo cristão”, afirma.
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