quinta-feira, 24 de maio de 2012

'Cantores de brega como eu estão em extinção', diz Agnaldo Timóteo

Ele se considera o ‘Pavarotti brasileiro’ e lamenta o rumo da vertente.
Intérprete regrava música de Gilberto Gil e lança CD 'romântico-gospel'.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
No toca-discos de Agnaldo Timóteo há pouca variedade. Ele revela que raramente escuta música. Quando o faz, opta pelos sucessos de Ângela Maria, Roberto Carlos e Cauby Peixoto. Mas se apetece mesmo é com o som da própria voz. “O artista que eu mais gosto de ouvir sou eu mesmo. Meu talento é fora do comum, sou o Pavarotti brasileiro”, declara ele, que promete lançar um disco romântico-gospel, cheio de regravações, ainda no primeiro semestre deste ano.
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
Apesar da overdose de autoestima, ele garante que não é presunçoso. Crê que sua trajetória é praticamente um milagre, pois soube se manter no topo e com qualidade vocal. “Estou há 47 anos fazendo sucesso, é milagroso tal feito. As pessoas quando me ouvem se assustam, porque eu sou bom demais. Estou cansado de ver os fãs chorarem nos meus shows", gaba-se.
Agnaldo não rejeita o rótulo de brega, mas acredita que faz apenas música romântica de boa qualidade. Como um típico político – ele é vereador em São Paulo – afirma que foi estigmatizado por inveja da oposição. “Macaco quando não pode comer uma banana diz que ela está podre. Foi isso que sempre aconteceu comigo na música", compara.
Lamentos
Seu cargo na Câmara rende um salário de R$ 9 mil por mês, valor que ele julga uma mixaria para tamanha responsabilidade e afazeres. Embora faça apenas quatro shows por mês, garante que é graças ao seu talento na música que consegue sustentar toda a família.
“Acho muito pouco o que recebo no cargo político. Pelo que faço, deveria ganhar como um jogador de futebol. Tenho que agradecer a Deus por fazer quatro shows por mês."
Pela baixa intensidade de apresentações, ele acredita que o brega esteja em extinção. Acha também que é um dos raros ícones da vertente que não teve a voz prejudicada pelo tempo. “Os demais baixaram a voz. Eu continuo no mesmo tom. Mantive a qualidade da minha voz.”

Só se vê modéstia em Agnaldo quando o assunto é mulher. O intérprete revela que fez pouco sucesso como homem. Sempre perdeu para os demais cantores de música romântica. Segundo ele, o maior terrorista do público feminino foi Nelson Ned. “Ele foi demais com a mulherada, era um tarado. O tamanho nunca comprometeu o assédio das fãs.”Justifica seu ibope baixo no medo. Revela que sempre temeu se apaixonar por mulheres oportunistas, com receio de perder seu patrimônio. “A vida toda tive medo de viver um romance que me custasse o que construí.”O cantor assume que foge de relacionamentos e confessa que gosta de viver aventuras amorosas. “Sempre fui um homem de aventuras, nunca de compromissos. Não me permito nunca estar sozinho. Hoje, meu desejo de sexo não é o mesmo de 20 anos atrás. Sou uma pessoa mais equilibrada, mas detesto a solidão."



Deus e amor
Católico fervoroso, como gosta de se definir, ele está prestes a lançar um CD de músicas romântico-gospel. O novo álbum já está finalizado e tem regravações de canções de Roberto Carlos e Gilberto Gil, além de “Noite feliz”, primeira música que Agnaldo cantou quando ainda menino em um coral de igreja em uma cidade próxima a Caratinga (MG), onde nasceu.Segundo o cantor, a gravação do disco foi um "mar de lágrimas". Ele diz que chorou copiosamente ao cantar “Oração de um jovem triste” e “Se eu quiser falar com Deus.”

 “É um CD emocionante, pra quem crê em Deus. Estou vivendo o melhor momento da minha carreira e da minha vida. Hoje eu sou ou admirado ou odiado, mas ninguém me ignora. Sou uma celebridade como o Roberto Carlos. Isso me torna uma pessoa agradecida. ”

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