Apresentadora de 63 anos completa 13 anos à frente do 'Mais Você', da TV Globo, em 2012
Foto: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias/Divulgação
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Ana Maria Braga está longe de sentir inseguranças. Muito pelo contrário. Determinada e sem pausas em seu discurso, a apresentadora faz questão de conhecer bem seu público. E, às vésperas de completar 13 anos no comando do Mais Você, na TV Globo, ela se mostra até empolgada com a estreia do novo projeto de Fátima Bernardes, previsto para as manhãs da emissora. "Acho que um programa vai beneficiar o outro", especula ela, que acaba de renovar por mais quatro anos seu contrato de trabalho.
TV Press - Você completa em julho 13 anos de TV Globo. Qual é o balanço que faz dessa trajetória?
Ana Maria Braga - Acho que aprendi muito com a Globo e eles também aprenderam muito comigo. A emissora não tinha um programa de variedades ao vivo e a gente acabou treinando muitos câmeras e técnicos na dinâmica de iluminação e em outras questões. Quando você diz "vou sair daqui e abrir o programa da portaria da Globo" ou "vou abrir o programa no Leblon e venho de helicóptero", isso requer tecnologia. Normalmente, ela é usada no jornalismo ao vivo e com entradas muito específicas, com segurança total. A Globo sempre tem dois "backups". E quando a gente está no ar em um ao vivo, algo pode dar errado. Tudo bem que a gente tem "backup" também, mas, até substituir, já deu errado. É um risco que a gente não gosta de correr. Aprendi muito sobre essas coisas.
TV Press - Por que fazer o Mais Você ao vivo? Pelos assuntos abordados, poderia ser gravado...
Ana - Ah, mas assim é mais emocionante. A verdade é transparente no ao vivo. É muito mais cansativo, sei que eu poderia gravar um programa às 10h, mas não é assim que faço. Seria mais confortável do que levantar às 4h40 todos os dias. Chego ao trabalho umas 6h10. E vamos fechando o programa desde antes de ir dormir até a hora de ir para o estúdio.
TV Press - Fala-se muito no foco na classe C, que ascendeu no Brasil. Qual é a sua visão sobre esse debate?
Ana Maria Braga - A classe C sempre esteve entre o público. Na Record, eu tinha classe A, B, C. É que nem aquela coisa de antigamente de "olha, passei na cozinha e minha empregada estava vendo Sílvio Santos e novela". Carrega um pouco de preconceito. Se pegarmos as pesquisas de público, mesmo daquela época em que eu estava na Record, tinha uma camada de classe A, uma camada de classe B, uma camada de classe C. O Brasil não é só Copacabana ou Cidade Jardim. É muito maior do que isso.
TV Press - Mas essa nova postura voltada para a classe C pode beneficiar o seu programa?
Ana - Acho que a classe C sempre viu TV por não precisar pagar nada além do aparelho. O que mudou é que antes esse público não tinha dinheiro sobrando para consumir o que era vendido em comerciais. O número de aparelhos ligados de hoje é até menor que antes, não houve uma mudança no perfil de público. Há, sim, mais possibilidades no consumo da classe C. E esse movimento gera uma economia mais favorecida e todas as emissoras e veículos de comunicação perceberam essa nova oportunidade. Mas esse público sempre existiu, isso não mudou. Quem não tentava agradá-los antes estava errando.
TV Press - E de que forma você tenta agradá-los?
Ana - A interatividade é fundamental na televisão, ainda mais quando se trata de um programa de variedades. Você precisa trazer o público para dentro. Quando eu estava na Record, eu dizia "gente, precisamos ler todas as cartas". Tínhamos uma sala só para receber cartas e chegava um monte delas. Quando você deixa de ouvir essas pessoas que estão do outro lado, não tem como falar com elas. Hoje em dia recebemos diariamente tudo o que é dito sobre o programa nas redes sociais, no nosso site, no meu site pessoal, no que chega pela Central de Atendimento da Globo, enfim, temos um condensado disso tudo e a lemos todos os dias.
TV Press - Você se surpreende com o que chega?
Ana - Olha, vem muita coisa boa. Recebemos várias sugestões, mas lemos as críticas primeiro, o que é muito melhor. Nos ajuda tanto! É um termômetro que faz diferença.
TV Press - Há coisas que chegaram por esses meios que os ajudou a mudar no programa?
Ana - Não tenho exemplos pontuais, porque também depende de um sentimento nosso. E você tem que medir a audiência. Esse retorno vem de um canal de comunicação específico: o das pessoas que têm acesso às tecnologias. Mas se você olhar o Brasil e essas classes mais baixas, e até pegar dados de pesquisas, vai ver que de cada quatro brasileiros, só um sabe ler e escrever bem. Mas esses outros três assistem televisão. E não têm como falar comigo. Então não posso levar em consideração só esse um que sabe ler e tem acesso à internet e ao telefone. Não dá para fazer um desvio tão importante e a audiência nos dá esse rumo para entender quem é nosso público.
TV Press - E qual é o seu público?
Ana - Meu público antigamente era muito mais de mulheres. Hoje em dia, na abertura do programa, eu tenho mais homens ligados na TV. Por isso que usamos o jornalismo naquela passagem do Bom Dia Brasil para a gente. Na primeira meia hora, tenho quase 40% de audiência masculina. Depois, a audiência vai mudando. Mas uns 20% continuam no programa até o final. Aí tenho as mulheres, crianças, adolescentes...é um perfil traçado semestralmente, com pesquisas qualitativas e quantitativas.
TV Press - Você mencionou a audiência masculina e, por esse público, abre com o jornalismo. Como escolhe o que vai entrar?
Ana - A gente não é telejornal e nem quer isso. Mas, através do jornalismo, eu posso incentivar as famílias que me assistem e alertar sobre algumas coisas. Não entramos em política, economia ou acidente de trânsito, não é isso. Aproveitamos um gancho. Outro dia estava vindo para cá, já tínhamos definido tudo, mas vi no Bom Dia Brasil uma cadeirinha que salvou a vida de uma criança em um acidente. Pronto: reprisamos a matéria. Mas é um alerta para a família, não é um compromisso jornalístico. Da sala onde me arrumo, assisto ao Bom Dia Rio e ao Bom Dia São Paulo. Depois vem o Bom Dia Brasil. Dali a gente vê algumas coisas que podem ser legais de abordar.
Ana - Não sabemos ainda qual será o formato do programa da Fátima. Está tudo sendo trabalhado com muito cuidado porque é uma complementação do horário da manhã da emissora. Mas eu acho muito boa essa mudança, porque assim teremos, na minha opinião, as manhãs mais inteligentes da televisão brasileira. Acho que todos os programas da manhã vão ganhar com essa novidade.
Por acaso
A carreira de Ana Maria Braga na televisão começou em São José do Rio Preto, no interior paulista, quando ainda cursava a faculdade de Biologia. E o início foi, na verdade, uma forma de poder pagar as contas. Para isso, ela trabalhava à noite em uma emissora local apresentando telejornais. Lá, conheceu o jornalista esportivo J. Ávila, que lhe conseguiu uma vaga na Bandeirantes, em São Paulo, levando Ana a se mudar para fazer uma especialização. Trabalhou lá por seis meses, até que foi chamada para apresentar o programa Replay, na Tupi. "Era bem parecido com o Vídeo Show de hoje. Dávamos entrevistas com Tony Ramos, Hebe, Trapalhões e outras estrelas da emissora", lembra ela, que permaneceu na empresa até o seu fechamento, em 1980, apresentando também telejornais e shows.A experiência no jornalismo e os contatos feitos no período lhe garantiram uma vaga como assessora de imprensa de Sylvia Maluf, mulher do então governador Paulo Maluf. De lá, assinou contrato com a Editora Abril, empresa onde permaneceu por longos oito anos. Chegou a ser diretora comercial das oito publicações femininas da época, mas foi mandada embora depois que um desafeto se tornou seu chefe. "Caiu o pano preto. Foi o primeiro desemprego da minha vida, já que a Tupi não conta porque a emissora quebrou", recorda.Montou, então, uma empresa de comunicação, mas o projeto durou pouco tempo. Isso porque um telefonema de uma antiga amiga da Tupi abriu portas para Ana fazer um teste na Record. "Fiz um projeto com tudo que aprendi na Abril e eles adoraram. A Record não era nada naquele tempo, dava traço. Então ficaram muito impressionados com o que propus, porque sabiam muito pouco de TV" explica ela, que praticamente trabalhou de graça por um tempo na apresentação do Note e Anote, cuja estreia ocorreu em 1993."Me davam uma ajuda, como se fossem uns R$ 1.000. Ah, e dois telefones, um aparelho de fax e um estúdio. Mas fiz um contrato, o melhor da minha vida! Tinha participação nas vendas, ou seja, meu salário variava conforme o faturamento do programa", conta Braga, que chegou a passar mais de seis horas ao vivo no programa e marcou médias acima dos 15 pontos de audiência. Até 1999, quando rompeu com a emissora e, semanas depois, assinou com a Globo, onde comanda o Mais Você até hoje.
Dedicação intensa
A rotina de Ana Maria não parece ser das mais fáceis. Para acordar todo dia às 4h40, a apresentadora tenta dormir cedo. Mas como precisa assistir ao Fantástico aos domingos para começar a pensar na abertura do Mais Você de segunda, sua semana já começa com cansaço. "Até porque nos dois dias anteriores eu já acordo mais tarde, o organismo desacostuma. fico olhando o relógio de led refletindo no meu teto e contando quanto tempo ainda terei de sono", lamenta.
Além disso, em vários dias ela só consegue sair do trabalho no fim da tarde, já que participa de reuniões e grava alguns quadros e chamadas com os convidados do programa. "Não trabalho por dinheiro e nem para aparecer. Não preciso mais disso, já fiz minha carreira. Tenho é muito tesão de vir todos os dias, não importa o horário e a dedicação", conclui.
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