sexta-feira, 11 de maio de 2012

Omar Sharif Jr., neto de lenda do cinema árabe, defende direitos gays no Egito

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO
Omar Sharif Jr., neto da lenda do cinema egípcio de quem herda o nome, está preocupado: ele teme não ser mais bem-vindo no Egito posterior à Primavera Árabe.

O jovem ator, que estrela propaganda da Calvin Klein, levantou debate ao, recentemente, publicar um artigo na revista gay "The Advocate".
"Hesitantemente confesso: sou egípcio, sou meio-judeu e sou gay", redigiu Sharif. "Escrevo este texto com medo [...]. Meus pais vão ficar chocados ao ler, certamente preferindo manter silêncio."
Em entrevista à Folha, o ator de 25 anos nota que "nada que você fizer vai render congratulações unânimes" e que "tinha isso em mente ao entrar nesse processo. Estou surpreso com todo o apoio".
Sharif, porém, foge de boa parte das perguntas --como quem tenta escapar de areia movediça em um deserto.Ele, por exemplo, não comenta qual foi a reação de seu avô ao artigo. Em sua conta do Facebook, porém, publicou uma foto apoiando a cabeça nos ombros do ator
de "Lawrence da Arábia".
"Feliz aniversário de 80 anos, vovô. Eu te amo."

Shutterstock
O ator Omar Sharif Jr., neto de uma das lendas do cinema árabe
O ator Omar Sharif Jr., neto de uma das lendas do cinema árabe
PROBLEMA
Conforme partidos islamistas ganham espaço no país, ativistas de direitos humanos se preocupam com uma possível piora de situações que já não estavam boas. Como a dos gays, segundo Sharif.
"Ser abertamente gay sempre significou procurar problemas, mas talvez especialmente durante essa época de levante político e social", escreveu o ator, na "Advocate".À Folha, porém, o egípcio prefere não detalhar o assunto. Não quer, por exemplo, falar das agruras de ser um homossexual nesse país árabe."Apesar do artigo, sou uma pessoa bastante reservada. Acho que sexualidade, religião e outros assuntos afins são privados. Eu acredito já ter me exposto o suficiente."
"Não sou um ativista", afirma. "Talvez eu tenha ajudado a trazer mais atenção e foco [à questão], mas de modo algum comecei essa iniciativa, e seria errado levar esse crédito."
SEQUESTRO
O texto publicado na "Advocate" é uma crítica ao encaminhamento dado à política no Egito após a derrocada do ditador Hosni Mubarak, que renunciou em fevereiro de 2011 devido a protestos em massa na praça Tahrir.
À época, o avô de Sharif apareceu em público pedindo que o mandatário deixasse o poder no Egito. Mas essa revolução popular, escreveu o neto, "foi sequestrada".
De maneira que a Primavera Árabe, nas margens do Nilo, pode estar "regredindo, em vez de avançar".

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