DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO
Omar Sharif Jr., neto da lenda do cinema egípcio de quem herda o nome,
está preocupado: ele teme não ser mais bem-vindo no Egito posterior à
Primavera Árabe.
DE SÃO PAULO
O jovem ator, que estrela propaganda da Calvin Klein, levantou debate ao, recentemente, publicar um artigo na revista gay "The Advocate".
"Hesitantemente confesso: sou egípcio, sou meio-judeu e sou gay", redigiu Sharif. "Escrevo este texto com medo [...]. Meus pais vão ficar chocados ao ler, certamente preferindo manter silêncio."
Em entrevista à Folha, o ator de 25 anos nota que "nada que você fizer vai render congratulações unânimes" e que "tinha isso em mente ao entrar nesse processo. Estou surpreso com todo o apoio".
Sharif, porém, foge de boa parte das perguntas --como quem tenta escapar de areia movediça em um deserto.Ele, por exemplo, não comenta qual foi a reação de seu avô ao artigo. Em sua conta do Facebook, porém, publicou uma foto apoiando a cabeça nos ombros do ator
de "Lawrence da Arábia".
"Feliz aniversário de 80 anos, vovô. Eu te amo."
Shutterstock | ||
O ator Omar Sharif Jr., neto de uma das lendas do cinema árabe |
Conforme partidos islamistas ganham espaço no país, ativistas de direitos humanos se preocupam com uma possível piora de situações que já não estavam boas. Como a dos gays, segundo Sharif.
"Ser abertamente gay sempre significou procurar problemas, mas talvez especialmente durante essa época de levante político e social", escreveu o ator, na "Advocate".À Folha, porém, o egípcio prefere não detalhar o assunto. Não quer, por exemplo, falar das agruras de ser um homossexual nesse país árabe."Apesar do artigo, sou uma pessoa bastante reservada. Acho que sexualidade, religião e outros assuntos afins são privados. Eu acredito já ter me exposto o suficiente."
"Não sou um ativista", afirma. "Talvez eu tenha ajudado a trazer mais atenção e foco [à questão], mas de modo algum comecei essa iniciativa, e seria errado levar esse crédito."
SEQUESTRO
O texto publicado na "Advocate" é uma crítica ao encaminhamento dado à política no Egito após a derrocada do ditador Hosni Mubarak, que renunciou em fevereiro de 2011 devido a protestos em massa na praça Tahrir.
À época, o avô de Sharif apareceu em público pedindo que o mandatário deixasse o poder no Egito. Mas essa revolução popular, escreveu o neto, "foi sequestrada".
De maneira que a Primavera Árabe, nas margens do Nilo, pode estar "regredindo, em vez de avançar".
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