Para começar, o sujeito é louro. Louro! Um sacrilégio. Na cultura ocidental, os cabelos louros remetem à inocência das crianças e à pureza dos anjinhos. E o pesonagem não tem nada de puro ou inocente. James Bond TEM que ser moreno.
E não é só isto. O Bond de Daniel Craig também não tem um pingo de senso de humor. Claro que isto não é culpa do ator e sim dos roteiristas, que tentam escapar da galhofa generalizada em que a série ameaçava se transformar.
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| Daniel Craig interpreta novamente James Bond em "007 - Operação Skyfall" |
Para completar, o James Bond atual não tem refinamento. Aposto que não sabe nem pegar nos talheres. Já seus antecessores eram autênticos almofadinhas, que faziam um dry martini de olhos fechados ou saíam de smoking de dentro de um traje de homem-rã como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Daniel Craig faz um Bond violento, taciturno, quase rústico. Muito distante do espião dos livros de Ian Fleming, que escolheu o suave ator inglês David Niven para encarná-lo no cinema.
Na minha modesta opinião, o melhor 007 da telona ainda é o original, Sean Connery. Nenhum outro ator dosou tão bem a arrogância, a sensualidade e a ironia que compõem o personagem. Connery ainda projetava uma aura de perigo que passou ao largo de alguns de seus sucessores, como Roger Moore ou Pierce Brosnan.
Mas o fato é que o James Bond de Daniel Craig é um sucesso de bilheteria. Menos empertigado, mais sofrido, parecido com heróis modernos como Jason Bourne. Os produtores nunca faturaram tanto com os filmes da série.
Como se explica isto? Simples: o personagem soube se adaptar aos novos tempos. O público de hoje não se interessa por firulas. Ao mesmo tempo, Bond se manteve fiel à sua essência: ainda é uma fantasia masculina básica. Afinal, qual homem que não sonha em salvar o mundo e comer muitas mulheres?
Tony Goes tem 51 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.
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