Ao olhar para trás na história da televisão brasileira, pode-se destacar inúmeras novelas que foram grandes sucessos de audiência. O fato de serem apostas que já deram certo e que, muitas vezes, ainda vivem na memória afetiva do público, acaba atiçando as emissoras à tentação de adaptá-las. Não é à toa que a teledramaturgia vive um período marcado pelo boom de remakes. Miguel Falabella - autor e protagonista de Pé na Cova -, no entanto, não está na lista de autores que faria uma releitura. "Eu tenho horror a remake. Não gosto de coisa repetida, vou sempre para frente", enfatizou.
Outro dramaturgo que segue o mesmo pensamento é Gloria Perez.
No ar com Salve Jorge no horário nobre da Globo e conhecida por ter um padrão autoral em seus folhetins – tramas recheadas de merchandising social e multiplicidade de culturas –, ela prefere criar algo do zero a ter de trabalhar com uma obra já existente, mesmo que seja sua. "Nunca pensei em fazer um remake e nem gostaria. Fica difícil recriar algo que tive prazer em escrever. E como eu não mudaria nada em minhas novelas, não faria sentido refazê-las", argumentou.
Remakes ganham espaço
A popularidade dos remakes se prova com o fato de três canais líderes de audiência, e únicos abertos que exibem folhetins, estarem em fase de produção de obras adaptadas. A Globo, com Saramandaia, o SBT, com Chiquititas e a Record, com Dona Xepa. Sem contar com as segundas versões que já estão no ar, como Guerra dos Sexos e Carrossel, além das que foram exibidas recentemente, como Gabriela, Rebelde e Ti-Ti-Ti. "Eu considero o remake uma reinterpretação de alguma obra", pondera Walcyr Carrasco, autor da segunda versão de Gabriela.
Entretanto, o êxito das primeiras versões dos folhetins entre os telespectadores não é garantia de sucesso para as adaptações. Muitas vezes porque a trama, por ser datada – já que foi escrita há anos –, acaba não convencendo nos dias de hoje. Como é o caso de Guerra dos Sexos, escrita e reescrita por Silvio de Abreu.
Quando gravada em 1983, a obra retratava de maneira cômica o espaço que a mulher vinha ganhando no mercado de trabalho e, consequentemente, a disputa que esse fato gerava entre os gêneros. Mas as mulheres praticamente já conquistaram a igualdade com os homens em termos profissionais e o tema já não empolga mais a quem assiste à produção.
"Eu comecei a história a partir de uma nova ideia, que foi a morte dos protagonistas Charlô e Otávio. Mas a adaptação tem os mesmo personagens e situações parecidas, só que escritas para os novos intérpretes", explica Silvio de Abreu.
Ao que parece, o essencial na produção de um remake é manter o texto o mais atualizado possível, mesmo seguindo a linha autoral da primeira versão. Esses foram os casos, por exemplo, de Rebelde, Carrossel e Ti-Ti-Ti. A novela teen, originalmente mexicana, teve seus direitos comprados pela Record. Com a adaptação de Margareth Boury, a obra caiu no gosto dos adolescentes e teve fôlego para sustentar uma segunda temporada.
Também importado do México, só que dessa vez pelo SBT, Carrossel, assinado por Íris Abravanel, conseguiu alcançar o propósito para que veio: conquistar o público infantil. E Ti-Ti-Ti, recriada por Maria Adelaide Amaral, marcou uma média de 30 pontos de audiência, bom índice para o horário das sete da Globo.
Mesmo tendo conseguido um reconhecimento que seu colega de emissora não atingiu ainda com o remake de Guerra dos Sexos, Maria Adelaide confere a Silvio de Abreu parte de seu sucesso. "Como me ensinou Silvio de Abreu na novela Anjo Mau, temos de aproveitar a ideia principal e escrever a nossa própria novela.
Foi o que eu fiz em Ti-Ti-Ti e deu certo", revelou a autora.
Entre as novidades que estão por vir, Saramandaia e Dona Xepa vão se diferenciar de Chiquititas no quesito de liberdade autoral. Enquanto as duas primeiras, adaptadas respectivamente por Ricardo Linhares e Gustavo Reiz, terão as histórias originais apenas como fio condutor inicial, a novela infantojuvenil seguirá o modelo de sua antecessora - Carrossel, também escrita por Íris Abravanel - e contará a mesma trama de sua primeira versão.
"Eu tenho toda liberdade para escrever como quiser, mudando o que acho que deve mudar e mantendo o que acredito que ainda funciona", contou Ricardo Linhares. Mas os dois autores, mesmo mudando certos elementos das novelas, não têm medo das comparações. "As comparações são inevitáveis, mas cada autor tem sua forma de contar. Acho interessante o público conhecer várias versões da mesma obra", conclui Gustavo Reiz.
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