Em um exercício futurista – e um tanto fetichista –, o cineasta paraibano Tavinho Teixeira abraça a lenda de que Batman e Robin são mais do que um dupla dinâmica em "Batguano", seu segundo filme, em cartaz em São Paulo, no 22° Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, e no Rio de Janeiro, na 6ª Semana dos Realizadores.
A lenda de que Batman e Robin seriam um casal vem dos anos 1950, quando o psiquiatra Frederic Wertham, ao publicar o livro "A Sedução dos Inocentes", a respeito dos "efeitos nefastos" dos gibis sobre os jovens da época, sugeriu, pela primeira vez, que os heróis eram homossexuais. "Como casal talvez seja um dos maiores ícones gays do nosso tempo", observa Teixeira, em entrevista ao UOL.
O filme segue os heróis em um futuro distópico, no qual o Ocidente foi varrido por uma peste chamada Batguano. Após perder um braço, Batman vira artista e passa os dias fazendo filmes amadores pornográficos.
"O mundo está em completo caos, e eles estão ali isolados, se protegendo do mundo. Os supermercados são saqueados, e há um movimento para o retorno de uma sociedade rural", conta Teixeira, que interpreta o Menino Prodígio no filme.
Já mais velhos, Batman (Everaldo Pontes) e Robin expõem seus desejos e maldades dentro de um galpão misterioso --que tanto pode ser um refúgio, como um set de filmagens abandonado.
Experimental e com uma forte carga homoerótica, o filme tem sido bem acolhido pelos fãs dos super-heróis. "Tive um retorno incrível da galera do quadrinho, os fãs mais tradicionais dessa cultura", diz o diretor. "Eu nem pesquisei muito. Não sou fã de Batman e Robin, não assisti aos filmes, eu apenas gostava do seriado quando criança. Faz parte da minha memória afetiva."
O clima sessentista do seriado televisivo que trazia Adam West como o Homem Morcego é inegável, mas "Batguano" quer discutir o mundo da representação. Batman e Robin podem tanto ser um casal fantasiado, personagens da antiga série ou os próprios super-heróis aposentados –em uma cena, Robin explica que conheceu o marido em um baile de máscaras: "Você me seguiu no banheiro em um baile de máscaras e recebi o convite de seu produtor".
"É uma metáfora que sai do cinema e vai para a vida. O mundo da representação que a gente vive. A gente acorda e precisamos reconstituir, diariamente, quem somos. Durante uma fração de segundos, temos que retomar o lugar. Você dá bom dia, escova os dentes, chega ao trabalho e vai colocando as máscaras. Essa é a condição humana", explica Teixeira.
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