terça-feira, 17 de março de 2015

Com paixão e intensidade, Elis Regina mudou a face da música brasileira

Se estivesse viva, Elis Regina completaria 70 anos no dia 17 de março. A eterna Pimentinha aproveitou de maneira tão intensa e imprevisível os 36 anos que passou neste planeta que, hoje, não seria possível projetar que rumos a trajetória artística dela teria tomado. Em um país que se notabilizou por ser um celeiro de potentes cantoras, Elis foi simplesmente a maior delas. Além disso, mais do que qualquer outro artista, ela sintetizou o momento crucial em que a bossa nova ganhou ares mais contemporâneos e virou MPB. Sempre mantendo a voz tecnicamente impecável, sem sequer uma nota fora do tom, Elis ia da leveza à indignação em segundos: ela jamais assumiu uma atitude blasé, mesmo quando cantava boleros ou algo mais romântico. A artista, inclusive, se manteve como uma das representantes da música mais presentes nos anos de chumbo, enquanto lançava inúmeros compositores que mais tarde fariam parte do primeiro escalão. Nesta discografia selecionada, que passa por todos esses aspectos, destacamos a essência fervorosa da arte de Elis.

Dois na Bossa
1965 Philips
Gravado ao vivo no Teatro Paramount (São Paulo), em abril de 1965, Dois na Bossa é o registro do espetáculo homônimo que juntou Elis e Jair Rodrigues. Campeão de vendagens, o álbum também foi precursor do programa O Fino da Bossa, que estreou na TV Record em maio daquele ano e uniu os dois novamente. Por meio de incendiárias interpretações de canções perenes, como “Reza”, “Arrastão” e muitas outras, a dupla definiu uma sigla que se tornaria uma nova potência: a MPB. A série Dois na Bossa ainda ganharia mais um par de volumes.

Elis
1972 Phonogram
Com Cesar Camargo Mariano no comando musical, este trabalho exala diversidade e sofisticação jazzística. Aqui, ela registrou “Águas de Março” dois anos antes da versão mais conhecida, que gravou com Tom Jobim. Em “Mucuripe”, Elis revelou Fagner e Belchior, dois compositores cearenses que buscavam um lugar ao sol. “Nada Será como Antes”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, cutucava os tempos difíceis que tolhiam o país. A bucólica “Casa no Campo”, de Tavito e Zé Rodrix, foi hit nacional, assim como “Atrás da Porta” (Chico Buarque e Francis Hime).

Falso Brilhante
1976 Phonogram
O show Falso Brilhante estreou em 1975 e cumpriu uma longa temporada no Teatro Bandeirantes (São Paulo). registro das canções da apresentação marcou época e sintetizou toda a força de Elis. A nostálgica “Fascinação”, versão de um clássico norteamericano, foi sucesso nas rádios. “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”, dobradinha rock and roll criada por Belchior, mostravam a preocupação de Elis com os rumos incertos que a geração dela tinha tomado.

Samba - Eu canto assim
1965 Philips
Elis já havia lançado quatro álbuns, todos sem identidade musical: Viva a Brotolândia (1961), Poema de Amor (1962), Elis Regina (1963) e O Bem do Amor (1963), mas em Samba – Eu Canto Assim ela se achou surfando no melhor da bossa e do samba.

Elis
1966 Philips
A cantora aqui dava chance aos até então desconhecidos Caetano Veloso (“Samba em Paz”), Gilberto Gil (“Lunik 9”) e Milton Nascimento (“Canção do Sal”). Àquela altura, o LP já deixava bem claro que Elis era a cantora mais moderna e influente da música brasileira.

Elis - Como e porque
1969 Philips
Neste disco de transição, Elis revisitava a bossa nova (“O Barquinho”) e os afro-sambas (“Canto de Ossanha”) e juntava de forma irônica “Aquarela do Brasil” com “Nega do Cabelo Duro”. A regional “Memórias de Marta Saré” era uma crítica social.

Elis
1974 Phonogram
Envolto em clima melancólico de cabaré e com Elis cantando com autoridade, o disco valoriza canções dos times de compositores Milton Nascimento/Fernando Brant e João Bosco/Aldir Blanc – o bolero “Dois pra Lá, Dois pra Cá”, criado por esta dupla, foi destaque.

Transversal do tempo
1978 Phonogram
Este álbum ao vivo essencial tem interpretações ferozes (e roqueiras) para “Sinal Fechado” (Paulinho da Viola) e “Deus Lhe Pague” (Chico Buarque). Em “Saudosa Maloca” (Adoniran Barbosa), Elis cai no samba paulista.

Elis, essa mulher
1979 Wea
Elis, Essa Mulher é memorável por trazer “O Bêbado e a Equilibrista”, canção de Aldir Blanc e João Bosco que saúda o retorno dos exilados e a abertura política no país. O trabalho é lembrado também pelas reflexivas “Essa Mulher” e “Altos e Baixos”.

Ela
1971 Philips
Nem sempre valorizado em meio à vasta discografia de Elis, o álbum Ela almeja um som mais universal. “Madalena”, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro, foi hit, mas a canção que deu o que falar foi “Black Is Beautiful”, gospel de Marcos e Paulo Sérgio Valle, um apelo à integração racial.

Elis
1973 Phonogram
As canções da dupla João Bosco/Aldir Blanc e as composições de Gilberto Gil sustentam este álbum vanguardista, pouco comercial e que novamente teve arranjos jazzísticos de Cesar Camargo Mariano. A sinistra “Agnus Sei” contrasta com a leveza de “Ladeira da Preguiça”.

Elis
1977 Phonogram
Quando este álbum foi lançado, ninguém conseguiu escapar de ouvir a toada caipira “Romaria” (Renato Teixeira). A delirante “Transversal do Tempo” (João Bosco e Aldir Blanc) deu nome ao show que virou o já citado disco ao vivo homônimo.

Saudades do Brasil
1980 Wea
Saudade do Brasil foi o penúltimo show de Elis. Porém, em vez de gravar mais um disco ao vivo, ela optou por registrar as canções do espetáculo em estúdio. “Alô, Alô Marciano”, o hit do repertório, é de Rita Lee e Roberto de Carvalho.

Elis
1980 Emi-Odeon
O derradeiro álbum da cantora tem um lado pop que ela estava começando a explorar, exemplificado pelo hit “Aprendendo a Jogar”, de Guilherme Arantes. A magnífica versão para “O Trem Azul”, de Lô Borges e Ronaldo Bastos, deu nome ao espetáculo final dela, em 1981.

Em pleno verão
1970 Philips
No final da década de 1960, a soul music e o groove começavam a dar as cartas no cenário nacional. Elis embarcou na onda black neste LP que tem versões sublimes para criações de Roberto e Erasmo Carlos, Jorge Ben e Tim Maia.

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