Um dos eventos mais concorridos de Cannes não foi com Marion Cotillard ou Russel Crowe, mas com um senhor de 80 anos que se tornou um mito do cinema: William Friedkin, diretor de clássicos como "O Exorcista" (1973) e filmes de ação cheios de testosterona como "Operação França" (1971), vencedor de cinco Oscars.
Friedkin foi convidado a dar a tradicional lição de cinema, em que conversa com um crítico francês e comenta sequências de seus filmes diante de uma plateia. O poder do homem é tamanho que a aula aconteceu numa sala no quinto andar do Palais e havia gente lotando até o piso do quarto andar e chegando duas horas antes para tentar um lugar no concorrido evento. Nem todo mundo entrou.
Muito bem para os seus 80 anos, ele fez piada o tempo todo sobre os seus fracassos comerciais – seus quatro primeiros longas foram péssimos de bilheteria, antes que viesse o sucesso de "Operação França". "O sucesso desse filme foi tão grande que, depois dele, eu teria conseguido dinheiro de Hollywood até para filmar o bar mitzvah do meu sobrinho", brincou.
Ele decidiu filmar na sequência o thriller "O Comboio do Medo", filmado nas florestas e encostas da República Dominicana – um daqueles projetos megalomaníacos e cheios de dor de cabeça na linha de "Apocalypse Now". Boa parte dos críticos considera sua obra-prima, mas foi outro grande fracasso de público.
Logo antes de exibir uma sequência de "O Exorcista", veio a notícia que ninguém esperava: ele teria sido convidado por uma autoridade do Vaticano a filmar, no último dia 1° de maio, um exorcismo real que teria acontecido lá mesmo, em Roma. "Foi uma experiência estarrecedora. Nunca mais serei o mesmo depois disso", declarou. O diretor, no entanto, não explicou o que pretende fazer com essas imagens – se é que elas de fato existem.
Suas relações com o Vaticano teriam se iniciado nos anos 70, na época das filmagens de "O Exorcista", inspirado num caso real de exorcismo ocorrido com um garoto de 14 anos em Saint-Louis, no Missouri, em 1949. Segundo o diretor, autoridades da Igreja italiana teriam pedido que ele filmasse uma menina possuída em vez de um menino, para não atrair atenção para o caso.
O que dizer? Pode ser tudo mentira mas, como demonstra sua obra-prima, Friedkin é um mestre em fazer o público acreditar até nas coisas mais absurdas. Num festival como Cannes, ninguém há de contestar suas histórias, que podem ser bem mais divertidas que a vida real, na qual não filma há cinco anos. Seus últimos projetos, acima da média, foram os thrillers "Possuídos" (2006) e "Killer Joe – Matador de Aluguel" (2011).
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