No dia 19 de janeiro de 1982, o Brasil perdia a eterna Pimentinha, apelido que Vinicius de Moraes deu para Elis Regina. Em 2017 faz, portanto 35 anos da morte dessa grande cantora que influenciou uma geração, mas que por mais que já tenha falecido há tanto tempo, suas músicas continuam sendo escutadas pelas novas gerações.
Elis Regina Carvalho Costa, seu nome de batismo, é considerada, até hoje e talvez sempre será reconhecida por críticos, como a melhor cantora popular do Brasil a partir dos anos 1960 ao início dos anos 1980; para muitos, a melhor cantora brasileira de todos os tempos, comparada a cantoras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday. Com os sucessos de Falso Brilhante (1975-1977). e Transversal do Tempo (1978), Elis Regina inovou os espetáculos musicais no país.
Elis faleceu jovem, com apenas 36 anos, devido a overdose de cocaína. Elis passou metade da vida em estúdios, distribuindo uma voz impecavelmente afinada por 27 álbuns. Foram exatamente dezoito anos de carreira.
Ela era a dona da mais perfeita alquimia entre técnica e emoção e vestia a fama como se fosse um daqueles vestidos caros, que, por belos, devem ser sempre trocados. A cada vitória ela safa, inquieta, em busca de uma nova parada: “Sempre vou viver como camicase. É isso que me faz ficar de pé”, confessava.
Pimentinha foi a primeira grande artista a surgir dos festivais de música na década de 1960 e descolava-se da estética da Bossa Nova pelo uso de sua extensão vocal e de sua dramaticidade. Inicialmente, seu estilo era influenciado pelos cantores do rádio, especialmente Ângela Maria. Depois de quatro LP's gravados e sem grande sucesso — Viva a Brotolândia (1961), Poema de Amor (1962), Elis Regina (1963), O Bem do Amor (1963) — Elis foi a maior revelação do festival da TV Excelsior em 1965, quando cantou "Arrastão" de Vinicius de Moraes e Edu Lobo. Tal feito lhe garantiria o convite para atuar na televisão e, pouco tempo depois, o título de primeira estrela da canção popular brasileira, quando passou a comandar, ao lado de Jair Rodrigues, o mais importante programa de música popular brasileira: o Fino da Bossa.
Poucos sabem, mas em 1964 Elis foi reprovada por Tom Jobim, durante as audições para o disco Pobre Menina Rica, sob a alegação de que ela ainda era muito provinciana.
Exatamente dez anos depois, gravaram juntos o disco Elis & Tom, histórico registro da MPB. O disco foi o presente dado à Elis pela gravadora ao completar dez anos de gravações na antiga Philips, atual Universal.
Pimentinha se mostrou versátil em sua carreira musical, cantou muitos gêneros: da MPB, passando pela bossa nova, pelo samba, rock e jazz. Interpretando canções como Madalena, Águas de Março, Atrás da Porta, Como Nossos Pais, O Bêbado e a Equilibrista, Querelas do Brasil, registrou momentos de felicidade, amor, tristeza, patriotismo. Ao longo de toda sua carreira, destacou-se por cantar também músicas de artistas, ainda, pouco conhecidos, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Belchior, Renato Teixeira, Aldir Blanc, João Bosco, ajudando a lançá-los e a divulgar suas obras, impulsionando-os no cenário musical brasileiro. Entre outras parcerias, são célebres os duetos que teve com Jair Rodrigues, Tom Jobim, Wilson Simonal, Rita Lee, Milton Nascimento, Gilberto Gil.
Elis nasceu em 17 de março de 1945 em Porto Alegre, começou a cantar aos 11 anos, em programas de rádio. Em dezembro de 1958, com 13 anos, foi contratada pela Rádio Gaúcha, passando a ser chamada de "a estrelinha da Rádio Gaúcha". Nesse mesmo ano foi eleita "Melhor Cantora do Rádio" gaúcho, em concurso realizado pela Revista de TV, Cinema, Teatro, Televisão e Artes, com apoio da sucursal gaúcha da Revista do Rádio, com sede no Rio de Janeiro.
Em 1967, ganhou o prêmio de melhor intérprete, com "O Cantador". Em 1968, venceu a primeira Bienal do Samba, com "Lapinha".
Nessa mesma época, liderou uma passeata contra a presença de guitarras na música brasileira. Pouco depois, gravou uma série de discos cheios de guitarras.
Durante os anos 70, aprimorou constantemente a técnica e domínio vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica parte do melhor da sua geração de músicos.
Em 1975, com o espetáculo Falso Brilhante, que mais tarde originou um disco homônimo, atinge enorme sucesso, ficando mais de um ano em cartaz e realizando quase 300 apresentações. Lendário, tornou-se um dos mais bem sucedidos espetáculos da história da música nacional e um marco definitivo da carreira. Ainda teve grande êxito com o espetáculo Transversal do Tempo, em 1978, de um clima extremamente político e tenso; o Essa Mulher em 1979, direção de Oswaldo Mendes, que estreou no Anhembi em São Paulo e excursionou pelo Brasil no lançamento do disco homônimo; o Saudades do Brasil, em 1980, sucesso de crítica e público pela originalidade, tanto nas canções quanto nos números com dançarinos amadores, direção de Ademar Guerra e coreografia de Márika Gidali (Ballet Stagium); e finalmente o último espetáculo, Trem Azul, em 1981, direção de Fernando Faro.
Elis Regina criticou muitas vezes a ditadura brasileira, nos difíceis Anos de chumbo, quando muitos músicos foram perseguidos e exilados. A crítica tornava-se pública em meio às declarações ou nas canções que interpretava. Em entrevista, no ano de 1969, teria afirmado que o Brasil era governado por "gorilas".
Sempre engajada politicamente, Elis participou de uma série de movimentos de renovação política e cultural brasileira, com voz ativa da campanha pela Anistia de exilados brasileiros. O despertar de uma postura artística engajada e com excelente repercussão acompanharia toda a carreira, sendo enfatizada por interpretações consagradas de O bêbado e a equilibrista, a qual vibrava como o hino da anistia.
No começo dos anos 1970, cantou o hino nacional nas comemorações dos 160 anos da Independência do Brasil capitaneadas pela ditadura militar. Nos anos seguintes, deu voz a músicas que criticavam essa mesma ditadura.
Mas como definir a personalidade de Pimentinha com poucas palavras? Talvez a melhor forma seja através de frases da própria Elis Regina. "Morro de medo. Faço todos os espetáculos me borrando de medo. Todos os dias", disse certa vez. Em outra oportunidade, afirmou: "Se ser geniosa, exigente e não gostar de ser passada para trás é ser mau caráter, então eu sou". Ou então: "Sempre vou viver como kamikaze. Isso me faz ficar de pé."
Em 22 de setembro de 2005, foi inaugurado na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, um espaço memorial para abrigar o Acervo Elis Regina. Trata-se de uma coleção de fotografias, artigos, objetos, discos e outros tipos de materiais relacionados com a vida e a obra da cantora, tendo sido doado por fãs, jornalistas e amigos pessoais de Elis.
No site da cantora, está recheado de discos disponíveis para audição, mais de 500 fotos, vídeos e depoimentos, incluindo materiais inéditos e ainda tem o livro Viva Elis, de Allen Guimarães, que pode ser lido gratuitamente pela internet. Se quiser dar uma olhada o site é: www.elisregina.com.br.
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