quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Cinema traz nova versão-'Dona Flor e seus dois maridos' de 2017 valoriza protagonista e pega leve na polêmica

Em 1976, o primeiro filme inspirado em "Dona Flor e seus dois maridos" vendeu 10,7 milhões de ingressos. Nos 34 anos que se seguiram, permaneceu como líder de bilheteria na história do cinema brasileiro, até o lançamento de "Tropa de elite 2" (2010). Com estreia marcada para 23 de novembro, a segunda adaptação do livro de Jorge Amado, estrelada por Juliana Paes e dirigida por Pedro Vasconcelos, não deve causar tanto impacto.
Na nova versão, mais próxima da montagem teatral de 2008 do que do longa de 76, a história perde muito de sua safadeza e potencial para causar reboliço. Por outro lado, constrói uma dona Flor com mais nuances, bem trabalhada por Juliana - melhor escolha para um papel que foi de Sonia Braga. O resultado colocou, no centro da trama ambientada nos anos 40, uma discussão que rende até hoje: a tensão entre desejo e moralidade e o olhar da sociedade sobre as mulheres. A história é uma das mais conhecidas do imaginário brasileiro. Vadinho (Marcelo Faria), o primeiro marido malandro e depravado, morre em uma farra de Carnaval logo no começo.
Flor se casa novamente com o metódico farmacêutico Teodoro (Leandro Hassum). Gosta dele, mas sente tanta saudade do fogo do ex que ele acaba voltando para lhe importunar. O filme dá mais espaço ao conflito da protagonista, dividida entre um marido perfeito, mas um tanto sem graça, e outro nada respeitoso, mas que lhe satisfaz na cama. Em 76, as cenas de convivência com os dois maridos ficaram para os 30 minutos finais. É com Vadinho que o novo longa pega mais leve. As falhas de caráter do personagem são suavizadas para criar empatia no público e realçar o romantismo da relação com Flor. Viciado em jogo, mulherengo e violento com a mulher, ele ganha na pele de Faria uma doçura que não tinha na interpretação de José Wilker (1944-2014). Já Teodoro é transformado numa caricatura simplória, não exatamente por culpa de Hassum, bem mais contido do que na maioria de suas comédias. Recursos da direção não permitem que ele vá além de um humor sem nenhuma sutileza. Fiel à trama central de "Dona Flor", o longa de Vasconcelos deixa de lado o retrato nostálgico do cotidiano da Salvador dos anos 40, tão precioso na obra de Jorge Amado. Ainda assim, é uma tradução honesta - e bonita - da história. Cumprirá bem o papel de não deixá-la se perder para as novas gerações.

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