Do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo
Um concurso para premiar relatos de travestis que vivem com o vírus da Aids, contadas em forma de texto literário, foi lançado em dezembro do ano passado pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Nesta sexta-feira (28), as selecionadas recebem o prêmio em cerimônia na Casa das Rosas, em São Paulo, às 20h.Entre os critérios de seleção, foram avaliados a adequação ao tema, o respeito aos direitos humanos e a criatividade. As travestis que tiveram seus textos selecionados ganharão um netbook. O ministro da Saúde Alexandre Padilha participa da cerimônia de entrega.O concurso ajuda a marcar a data de Visibilidade das Travestis, no sábado (29). As histórias finalistas, disponíveis no site www.aids.gov.br/vidas, serão adaptadas para uma publicação. O objetivo é chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas por essas pessoas e conscientizar a sociedade brasileira pelo fim da transfobia.
Esta é a terceira edição do concurso Vidas em Crônica. A primeira contou com relatos de pessoas que vivem e convivem com HIV/Aids e a segunda foi focada nos jovens com a mesma realidade.
Veja trechos de histórias das premiadas:
“A violência e o medo da morte me conduziam a estados de alerta. No entanto, a sensação de invulnerabilidade sexual impedia que eu fosse capaz de me proteger. Saía com vários homens e sentia prazeres diversos. Mas a possibilidade de sentir o prazer pleno resultou na descoberta de minha sorologia positiva”
Lyah, 29 anos, Belém (PA)
“Aos seis anos ingressei na escola, era um novo horizonte. Porém, aos poucos esse encantamento foi se tornando tristeza, pois percebia que meus desejos se voltavam ao sexo oposto e, por isso, passei a sofrer bulling. Diante disso abandonei os estudos”
Raíssa, 35 anos, Belém (PA)
“Com 17 anos fui morar em SP e comecei a me prostituir, ficando nessa vida por pouco tempo, uns 3 anos, lá conheci uma pessoa que dizia ser muito bom e carinhoso e que me daria tudo. Mas ao conviver com ele, no dia a dia, percebi que estava sendo mais uma vítima dele, ele me abusava sexualmente, me agredia fisicamente e verbalmente”.
“Ele me mostrou a foto de suas duas filhas pequenas. Continuamos a se ver e se falar e em menos de três meses já estávamos namorando. Desse tempo, conheci a família e as duas filhas dele, antes de termos relação sexual, falamos sobre doenças sexualmente transmissíveis e no decorrer da conversa ele assumiu a doença pra mim – ele é soropositivo. Vivemos juntos a 12 anos, somos uma família feliz”
Patrícia, 38 anos, Presidente Prudente (SP)
“Peguei HIV quando estava presa, me relacionei com um rapaz que era portador há mais de 20 anos. Na cadeia só tem valor quem é homem, a gente que é mulher não serve pra nada. Lá dá muito medo da reação das pessoas, não dá pra gritar, fugir, não tem pra onde correr. Meu medo era que esse rapaz pudesse fazer alguma coisa de ruim pra mim. Então transei sem camisinha. Foi uma vez só, nunca gostei dele”.
“Já fui agredida muitas vezes, tenho o rosto todo deformado. Às vezes junta 4, 5, 6, até 7 homens para agredir a gente, sem a gente fazer nada”.
Daniele, 25 anos, Santo André (SP)
“Quando cheguei, passava das 22 horas e a fome começou a apertar, e o que fazer? Não demorou muito e eu encontrei uma travesti. Neste momento, compreendi que não havia outra opção além da prostituição, algo totalmente novo na minha vida. Meu primeiro programa foi com um senhor que aparentava seus 45 anos. Apesar da sua gentileza, não gostei de ele ter dispensado o uso do preservativo”
Bruna, 35 anos, São José do Rio Preto (SP)
Entrega do Prêmio Vidas em Crônica – Travestis
Endereço: Av. Paulista, nº. 37, Bela Vista. São Paulo
Data: 28 de janeiro (sexta-feira), 20h
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