sábado, 12 de fevereiro de 2011

Entrevista Especial-Ney Matogrosso: "Sou recatado"

Prestes a completar 70 anos, cantor fala sobre namoros e relacionamento com Cazuza

CLARA PASSI /Revista QUEM
Daryan Dornelles / Fotonauta
Prestes a completar, em agosto, 70 anos, Ney Matogrosso conserva o corpo magro de sempre – 61 quilos em 1,70 metro – e também a inquietação criativa, no momento em que lança o CD e o DVD Beijo Bandido ao Vivo, gravados no ano passado. Ele também dirige a peça Dentro da Noite, em cartaz no Rio de Janeiro, e protagoniza o filme Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha, que estreia em junho. O cantor recebeu a repórter Clara Passi em sua cobertura com vista para o mar do Leblon, no Rio, para responder às perguntas enviadas pelos leitores ao site de QUEM. No papo, ele falou sobre seu relacionamento com Cazuza, a experiência com as drogas e seu lado centrado e quieto. “Sempre fui assim”, afirmou.
1 - Como você lida com os que querem que você se comporte no dia a dia da mesma maneira ousada com que faz seus shows?
Norma Lima
, Rio de Janeiro (RJ)
Não me sinto obrigado a corresponder a essa expectativa. É um outro lado meu que aflora quando estou no palco. Sou recatado. Uma pessoa que prefere observar a ser observado. Não gosto de noitada, de loucura, sou centrado, quieto. Sempre fui assim.
2 - Aos 70 anos, você ainda se vê rebolando com tanga de leopardo e penas coloridas?
Larissa Ranhere
, Jaú (SP)
Dependendo do trabalho... Mas tem um limite estético para a nudez. Não esperarei que ninguém aponte, vou entender esse limite. Isso não significa que eu não possa aparecer com roupas extravagantes. Nu, tenho minhas dúvidas (risos).
3 - Como consegue manter-se longe dos burburinhos da imprensa?
Lucas Souza
, Rio de Janeiro (RJ)
Não tenho interesse na exposição da minha vida privada. Posso estar acompanhado na rua de alguém que seja especial para mim, mas não preciso ficar me agarrando.

Daryan Dornelles
4 - Que marcas o romance com Cazuza deixou em você? José Nóbrega, Jacareí (SP)
A partir do Cazuza, entendi que seria possível vivenciar uma experiência a dois. Antes, era com todo mundo e nada com ninguém. Mesmo quando terminamos nossa história, que foi muito curta, fomos amorosos um com o outro até o fim da vida dele. Eu tinha outro relacionamento que não tinha ciúme disso. Ia para seu apartamento e ficávamos conversando a tarde inteira.
5 - Você namoraria um fã? Está solteiro?
Lucas Alves
, Ribeirão Preto (SP)
Nunca me envolvi com um fã. E sobre se estou solteiro, essa é uma pergunta muito indiscreta, à qual não respondo.
6 - Já se relacionou com mulheres?
Taís Rosa
, Salvador (BA)
Já, com várias. Algumas me marcaram. Já vivi experiências amorosas com homens e mulheres. Sempre fui muito livre, olho para tudo com naturalidade.
7 - Você acha que a música brasileira está empobrecendo artisticamente?
Aline Santos
, Rio de Janeiro (RJ)
Não. Não existe mais uma indústria organizada, poderosa, o que favoreceu o surgimento de muita gente independente, via internet. Enquanto existir CD, farei, porque gosto de gravar, fazer a capa...
8 - As pessoas estão mais caretas do que na década de 70?
Joelma Batista
, Brasília (DF)
A partir da Aids, houve uma retração de pensamento. Foi incutido numa geração inteira que sexo é pecado. E, com isso, outros valores. Acho, sim, que as pessoas são muito mais caretas do que eram nos anos 70. Até o início dos 80, apesar da ditadura, havia uma expansão de pensamento, de expressão. Transitava-se nesses assuntos com naturalidade. Hoje, é estranho. Sei de gente que marcou encontro pela internet, transou e nunca mais viu. Antigamente, você conhecia, olhava, sentia o cheiro. Acho interessante essa coisa que antecede o sexo.
9 - Como sentiu o impacto do surgimento da Aids nos anos 80?
Mariza Torres
, Recife (PE)
A Aids era posta como um câncer gay. Se descobrirem que o vírus foi manipulado em laboratório, não ficarei chocado, já que, nos Estados Unidos, os gays já estavam se transformando num poder político. Em dois anos, enterrei 13 amigos. Teve semana em que fui três vezes ao cemitério. Não fiz teste até descobrir que uma pessoa com quem me relacionava estava com Aids. Fui, certo de que daria positivo. Como não fui infectado? Já perguntei a médicos, ninguém sabe me responder.
10 - De onde vem tanta serenidade?
Ivoleide
, por e-mail
Tenho um sentido espiritual, que não passa por religião. Comunico-me com a natureza, percebo-a sagrada. Quando fico no sol, peço que envie informação que esclareça meu pensamento. A partir de 1988, tomei um ano e meio de Daime (chá de ayahuasca). Foi um autoconhecimento. Parei porque parecia que estava fazendo análise diariamente. Ainda tenho vontade de tomar Daime, sozinho, no meio do mato. Transitei pelas drogas com liberdade e a única coisa de que dependi foi remédio para dormir. Toda noite, tomo um ansiolítico. Tomei ácido pela primeira vez no final dos anos 60, em Búzios (Região dos Lagos fluminense). Olhei o céu, o mar, a areia, a mata linda e entendi o universo. Tive uma crise de choro. Vi que o grão de areia era tão necessário quanto eu. E que há milhões de universos. Tive um êxtase místico.
 Daryan Dornelles
11- Você deu uma entrevista na década de noventa e disse para os seus fãs esperarem muito de você, pois ainda iria ‘pirar’ muito. Depois de todo esse tempo e com trabalhos grandiosos a exemplo do ‘Inclassificáveis’ você ainda vai ‘pirar’ muito e fazer essas apresentações com uma grande estrutura?
Ney Bezerra, Recife (PE) Uma revista, nos anos 90, disse que eu era escandaloso. Eu disse que eles não sabiam o que é escândalo. Se tivessem me visto em 1973 seminu, me requebrando todo, pintado, com uma pena de 1 metro enfiada na cabeça, no meio da ditadura... Isso, sim, era escândalo. Isso porque fiquei de tapa sexo no show ‘Um Brasileiro’ (1996), em que eu tirava a roupa, ficava de tapa-sexo e vestia outra roupa. (Sobre shows) Não sei, isso aí me vem.
12- Como será a sonoridade do próximo álbum?
Guilherme Eddino
, São Paulo (SP) Estou começando a ouvir repertório e posso dizer que será um trabalho mais voltado para o pop. Talvez menos rock do que o ‘Inclassificáveis’. Mas se aparecer rock, vou colocar, porque gosto. E a performance virá em decorrência do que eu tiver como repertório. Podem esperar qualquer coisa. A tanguinha de leopardo e a pena de gavião na cabeça, não, como na abertura do Rock in Rio (1985). Talvez não mais (risos).
13- O que leva um cantor a gravar várias vezes a mesma música, em trabalhos diferentes? Silvio Freire, Recife (PE) Tem algumas que repito e, como estão dentro de um show, são gravadas de novo. ‘Rosa de Hiroshima’, talvez a mais cantada, ‘Metamorfose Ambulante’ e ‘Balada do Louco’ são as três músicas que mais cantei na minha vida inteira. Não penso, vejo se cabe no roteiro. Não canto sucessos, nunca fiz um show de sucessos. Quero oferecer coisas novas. Gosto de desafio, de sempre apresentar trabalhos novos. Essas três músicas já cantei várias vezes em várias situações, com bandas diferentes, então tem sempre sonoridade diferente.
14- De todos os livros que você já leu, qual mais o marcou?
Rita Vicente
, Brasília (DF) Quando li o 'Tao Te Ching', do Lao Tse, fiquei muito transtornado. Foi antes de ser cantor, em 1970. É um livro chinês, com filosofia e esoterismo. Fiquei tão excitado que não dormia por causa desse livro. Reli há pouco tempo e não me provocou nada. Queria aquilo tudo de novo.
15- O documentário "Olho Nu", de Joel Pizzini sobre você, está previsto para o segundo semestre desse ano. Você já disse que são mais de 700 horas de imagens e tem muita coisa que não vai ser usado no documentário. Pensa em lançar uma caixa só com esses DVDS?
Marcia Hack
, Curitiba (PR) Sim, vai ser posto em ordem cronológica e vendido como uma série. As imagens, muita coisa eu tinha e muita coisa eles filmaram. E estão fazendo um levantamento em todas as televisões. Tem muito material interessante, como uma gravação de Barco Negro. Antigamente, existia um jornal que passava no cinema, antes do filme. Você gravava números musicais para a Globo e passava nesse jornal eletrônico no cinema. Mas era gravado com película. Fomos gravar na Região dos Lagos, numa praia. E eu cantando aquele fado, todo enrolado num pano preto, naquele areal. É lindo. Eu estou cantando e a câmera fica três minutos parada em mim. Parece um filme.



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