sexta-feira, 11 de março de 2011

Tecnologia HD muda forma de fazer novelas

Saiba quais são os personagens da nova minissérie da 'Record', 'Sansão e Dalila'. Foto: Divulgação 'Sansão e Dalila' foi a primeira novela da Record gravada inteiramente em HD
Foto: Divulgação

Geraldo Bessa /Terra

Muita coisa mudou na teledramaturgia brasileira desde o dia 2 de dezembro de 2007. Foi a data em que o Brasil oficializou a transmissão de imagem em HDTV, sigla para o termo inglês "High Definiton Television" ou televisão em alta definição. Naquele momento do país, a televisão em HD era mais uma ideia do que uma realidade. Afinal, poucos lares tinham o televisor e o receptor apropriados para ver cenas em alta nitidez. "A gente começou mesmo sabendo que muita gente não iria ver tanta diferença.
A equipe toda se mobilizou para fazer os ajustes necessários para o HD", recorda Ary Coslov, um dos diretores de Duas Caras, primeira novela gravada com a tecnologia, no final daquele ano. A estreia da alta definição em folhetins foi feita depois de testes em outros programas da emissora, como algumas disputas dos Jogos Panamericanos, ocorridos no mesmo ano. "Foi um passo importante para garantir que a nova geração continue interessada em tevê. Ainda existem dificuldades, mas elas já fazem parte do cotidiano das produções", analisa a diretora de engenharia da Globo, Liliana Nakonechnyj. Os problemas nos bastidores são justificados pela qualidade da imagem em HD. Qualquer detalhe é evidenciado, desde pequenas rugas dos atores, até um cenário mal elaborado. "Agora tudo tem de ser mais real. Qualquer imperfeição é facilmente detectada. Por exemplo, não se pode usar algo que imite vidro, isso pode ficar estranho no vídeo. Tem de ser vidro mesmo", explica Mauro Monteiro, diretor de arte de Insensato Coração. Além da equipe de produção de arte, outras áreas como maquiagem, cenografia e direção tiveram de se adequar aos novos tempos.
Todo o cuidado é pouco na hora de gravar as cenas. Se antes os maquiadores carregavam a mão nas tintas e cores das caracterizações, agora o "make-up" deve ser leve e preciso. "Agora o menos é mais. Usamos uma base especifica para correções de marcas de expressão. Todo o 'look' da novela é sóbrio. Além de um bom resultado na transmissão em alta definição, isso evita que a produção fique datada", acredita o maquiador Fernando Torquatto, responsável pelo visual dos personagens do atual folhetim das nove.
O visual também foi uma das principais preocupações de outra trama pioneira. Em 2007, a Band transmitiu a novela Dance Dance Dance em alta definição. "É preciso pensar nos mínimos detalhes. A cor dos cabelos da Juliana Baroni tinha de ser retocada a cada dez dias", relembra o maquiador Guilherme Pereira, referindo-se à protagonista de uma das últimas novelas do canal. A falta de investimento das outras emissoras, tornou a Globo referência no assunto. Com o lançamento de Araguaia, atual trama das seis, em setembro do ano passado, a emissora enfim levou a tecnologia para suas três novelas principais. "Foi um processo complicado. Transportamos câmaras de alta definição para o meio do rio e captamos cenas lindas. O público percebe a qualidade do trabalho", valoriza Marcos Schechtman, diretor do folhetim.
Trabalhar com alta resolução modificou o jeito de fazer novelas. Porém, todos os envolvidos nas produções concordam que a atuação é a parte mais essencial da gravação. E ela não sofreu tanto com as mudanças. "Ainda é a razão de se fazer tevê. Independente da tecnologia, as emoções e os dramas são os ingredientes básicos para garantir uma boa cena", ressalta Elizângela, intérprete da Nicole de Ti-Ti-Ti, 31ª novela da atriz. Outra profissional que pode falar com propriedade sobre o trabalho em diversos estágios da tecnologia é Ana Rosa, recordista em folhetins. "Atrizes da minha idade são as mais preocupadas com a alta definição. A gente viva da imagem e isso complica um pouco. Porém, fico tranquila caso apareça uma ruga ou outra", brinca a atriz de 68 anos, que já perdeu a conta de quantas novelas fez. Ela volta ao ar em Morde e Assopra, próxima trama das sete.
Cobaias em séries
Formatos de curta duração como seriados e minisséries são muito usados pelas emissoras para experimentar novidades tecnológicas. Lançada no início deste ano, Sansão e Dalila foi a primeira produção de teledramaturgia da Record toda gravada em HD. Para compensar certo atraso em relação à Globo e Band, a emissora não poupou investimentos para a minissérie. "Este é só o início do projetos em HD. Fomos atrás do que tinha de mais moderno no mercado", garante Hiran Silveira, diretor de teledramaturgia do canal. O maior desafio da produção bíblica foi criar cenários que remetiam a mil anos antes de Cristo.
"Com as gravações em alta definição, um buraco na parede pode parecer um rombo. É possível ver as digitais em vidros. Portanto, o cuidado é dobrado", analisa Daniel Clabunde, diretor de cenografia da minissérie. Recentes séries globais também apostaram no HD. Ano passado, Afinal, O Que Querem As Mulheres? fez com que o diretor Luiz Fernando Carvalho ficasse atento ao acabamento das cenas. "Trabalhei propositalmente com um excesso de cores e isso dificultou a captação de imagens. Tudo no HD pode ficar chamativo demais", destaca. Outra produção da emissora que abusa das cores em suas cenas é Aline. O seriado protagonizado por Maria Flor tem produção esmerada e muitas tomadas externas. "Com a alta definição é possível prever os erros que não podem ir ao ar", explica Maurício Farias, diretor do seriado.

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