quinta-feira, 14 de abril de 2011

'Descobrirão quem eu sou da maneira mais radical', diz atirador em vídeo

DIANA BRITO/FOLHA
DO RIO

Tragédia em escola no RioA Polícia Civil do Rio divulgou nesta quarta-feira novas imagens de Wellington Menezes de Oliveira, 23, que atirou contra alunos da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo (zona oeste do Rio), matando 12 deles na quinta-feira (7).
O vídeo, com 58 segundos de duração, foi recuperado de um dos discos rígidos encontrados na casa do atirador. De acordo com a polícia, ainda não é possível determinar a data de gravação, porém os dados apontam que o disco foi acessado pela última vez em julho de 2010, o que indica que o crime já era planejado no ano passado. A polícia informou ter sido esse o único vídeo recuperado até agora.
"A maioria das pessoas me desrespeitam (sic), acham que sou um idiota, se aproveitam de minha bondade, me julgam antecipadamente. São falsas, desleais. Descobrirão quem eu sou da maneira mais radical numa ação que farei pelos meus semelhantes, que são humilhados, agredidos, desrespeitados em vários locais, principalmente em escolas e colégios, pelo fato de serem diferentes, de não fazerem parte do grupo dos infiéis, dos desleais, dos falsos, dos corruptos, dos maus. São humilhados por serem bons."
Segundo o diretor geral de Polícia Técnico Científica, Sérgio da Costa Henriques, o último acesso ao HD onde estavam as imagens aconteceu em julho de 2010, o que significa que Wellington planejava o crime ao menos desde o ano passado. A polícia analisa dois HDs de computadores do atirador --um que foi queimado e outro que está íntegro. O vídeo foi retirado do HD íntegro.
"Tudo indica que ele usou uma câmera para gravar as imagens. Também estamos tentando recuperar outros dados da máquina dele", disse Henriques. Henriques afirma que as provas colhidas até agora e os laudos cadavéricos indicam que as meninas eram o principal alvo de Wellington. A maioria levou tiros na cabeça e no tórax. Ainda de acordo com o especialista, não foi encontrada nenhuma prova que aponte suspeitas de ligação de Wellington com grupos extremistas. O laudo da perícia do computador do atirador deve ficar pronto em até o final do mês. Henriques afirmou que será investigada a origem das imagens exibidas na noite de terça-feira (12) pelo "Jornal Nacional", da TV Globo. Segundo ele, a polícia não tem essas imagens.
HOMENAGEM
um ato ecumênico em homenagem aos estudantes mortos no massacre, realizado em frente a escola, reuniu mais de 2.500 pessoas na manhã desta quarta-feira. O policial Márcio Alexandre Alves, que parou o atirador durante o massacre participou do ato. Ele foi aplaudido e pediu a união para que parentes e amigos superem o massacre. Ana Carolina Oliveira, mãe da menina Isabella Nardoni, morta em 2008, também foi ao Rio participar da celebração.
BULLYING
O "Jornal Nacional", da TV Globo, divulgou nesta terça-feira (12) outros vídeos feitos por Wellington. Nas imagens, ele aparece sem barba e fala de modo calmo, mas confuso. Ele diz ter feito a gravação na terça-feira (5), dois dias antes do ataque, e fala sobre o planejamento do crime.
"A luta pelo qual muitos irmãos no passado morreram e eu morrerei não é exclusivamente pelo o que é conhecido como bullying. A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem", afirma.
MASSACRE
A tragédia ocorreu por volta das 8h30 do dia 7 de abril, após Wellington entrar na escola onde cursou o ensino fundamental e dizer que buscaria seu histórico escolar. Depois, disse que daria uma palestra e, já em uma sala de aula, começou a atirar nos alunos. Relatos de sobreviventes afirmam que ele mirava na direção nas meninas. Uma das alunas contou aos policiais que, ao ouvir apelos para não atirar, Oliveira mirava na direção delas, tendo como alvo a cabeça. Os policiais informaram ainda que, pelas análises preliminares, há indicações de que Oliveira treinou para executar o crime. Durante o tiroteio, um garoto, ferido, conseguiu escapar e avisar a Polícia Militar. O policial Márcio Alexandre Alves relatou que Oliveira chegou a apontar a arma para ele quando estava na escada que dá acesso ao terceiro andar do prédio, onde alunos estavam escondidos. O policial disse ter atirado no criminoso e pedido que ele largasse a arma. Em seguida, Oliveira se matou com um tiro na cabeça. De acordo com a polícia, o atirador usou dois revólveres e tinha muita munição. Além de colete a prova de balas, usava cinturão com armamento. Em carta (leia íntegra aqui), o criminoso fala em "perdão de Deus" e diz que quer ser enterrado ao lado de sua mãe.
Nesta terça-feira, a polícia informou que o laudo cadavérico do IML do atirador apontou característica de suicídio.

Irmão de atirador diz que massacre desestruturou sua família
LARISSA GUIMARÃES/FOLHA
DE BRASÍLIA
Tragédia em escola no Rio"É extremamente triste que a minha família tenha entrado para a história do país por causa de uma história de terror", disse P., 59 anos, um dos cinco irmãos do atirador Wellington Menezes de Oliveira, que matou 12 crianças em uma escola municipal do Rio de Janeiro no dia 7.
Em entrevista à Folha concedida na quarta-feira (13), P. contou que a tragédia em Realengo "desestruturou" toda a sua família --uma das irmãs teve que abandonar a casa onde vive no Rio e alguns sobrinhos até deixaram seus empregos. Ele também contou que a família se preocupava com o fato de Wellington passar muito tempo no computador. Segundo P., Wellington deixou o tratamento psicológico porque não queria mais ir às sessões.
Leia abaixo a entrevista concedida numa cidade de Goiás, próxima ao Distrito Federal.
Folha - Como a família reagiu em relação à tragédia na escola de Realengo, no Rio?
Irmão de Wellington - Fomos pegos de calça curta. Não tivemos nem ao menos como entender isso. Ninguém esperava isso dele, apesar de Wellington ter uma personalidade fechada. Assim como o Brasil está perplexo, nós também estamos. Assim como todo mundo está tentando descobrir o que aconteceu, nós também estamos. É extremamente triste que a minha família tenha entrado para a história do país por causa de uma história de terror. Até amigos meus que moram fora do país, na Itália, nos EUA, me ligaram apavorados. Tudo isso desestruturou minha família no Rio. Eles estão muitos assustados, até porque antes tinham uma vida pacata. Alguns sobrinhos até largaram o emprego, e minha irmã deixou a casa dela, no Rio.
Como era a relação dele com a família?
Quando ele chegava em casa, era sempre com a boca fechada. Ele conversava pouco com a família, mas não era agressivo. Quando havia festa na casa de minha mãe e todos irmãos estavam lá, Wellington fazia um prato e ia para o quarto dele. Todos os cinco irmãos são muitos comunicativos, só Wellington que não era assim. Ele tinha dois ou três amigos. A imprensa fala que ele não tinha amigos, mas tinha ao menos uns três.
Talvez ele já estivesse com problema mental naquela época e, quando sentiu a perda da mãe, foi ali que a doença se apresentou. Até então, ele só apresentava esse jeito fechado. Como a gente não tem entendimento sobre esse tipo de coisa, fica difícil de descobrir algo, uma doença assim.
A família se preocupava com o jeito fechado de Wellington?
Eu era um dos mais preocupados com o jeito fechado dele. Mas várias famílias tem jovens fechados e isso não é necessariamente um problema. Nenhum irmão ou vizinho poderia imaginar que Wellington chegaria a isso.
Vocês notavam que havia algo de errado com Wellington?
Todos os irmãos se preocupavam pelo fato de Wellington ficar muito tempo na internet. O tempo todo ele passava em frente ao computador. Em geral, ele comia vendo TV ou levava o prato para o lado do computador. Como o computador ficava no quarto dele, ninguém ficava entrando. Minha mãe tinha muita preocupação em relação às amizades que ele poderia fazer pela internet.
A família encaminhou Wellington para tratamento com psicólogos? Por que ele parou?
A própria escola chamou a minha mãe numa época e recomendou que ela levasse Wellington para um psicólogo. Minha mãe levava Wellington para a terapia e ele foi fazendo o tratamento. Quando ficou mais velho, perto da maioridade, minha mãe contou que ele não queria mais ir e ela resolveu não obrigá-lo.
Como era o comportamento de Wellington em casa, com a mãe de vocês?
Não havia agressividade, o que havia era mal criação, às vezes. Minha mãe tratou Wellington com muito amor e carinho. Como ela o adotou com pouco mais de 50 anos, acho que ela pensava que ela iria faltar mais cedo para ele. Ela tratou Wellington até melhor que os outros filhos.
Minha mãe era um porto seguro para o Wellington, pois ele era um menino que quase não se relacionava com mais gente. Todos os irmãos eram mais velhos e casados. Mas, mesmo assim, a gente sempre tentava conversar com ele. Ele era bem paparicado.Minha irmã fazia doce e bombons para ele. Wellington quase não saía de casa. Depois que minha mãe morreu, até comida ele pedia, marmitex.
Wellington sempre teve ligação com alguma religião?
Minha mãe era extremamente religiosa, era testemunha de Jeová. Wellington também a acompanhava na igreja. Depois, quando foi crescendo, ele acabou se afastando dessa religião, acho que procurou outras religiões. Minha mãe nunca ensinou nada de ruim ao Wellington, nada desse radicalismo. Ela deu cultura, família e valores.
Wellington chegou a ter alguma namorada? Teve alguma decepção amorosa?
Pelo que nós sabemos, ele nunca teve namorada.
E sobre a suposta ligação de Wellington com grupos islâmicos?
Não sabemos nada sobre ligação dele com grupos islâmicos.
Como está a sua vida desde a tragédia?
Tenho tentado permanecer tranquilo, mas evito sair de casa. Não queria estar no meio dessa história, por isso estou evitando falar com a imprensa.
Como você soube do envolvimento de seu irmão na tragédia na escola de Realengo?
Eu soube do que aconteceu pela TV. Vi que a reportagem falava sobre a escola próxima da nossa casa, no Rio. Nem imaginei que era o Wellington. Quando falaram o nome dele na TV, desmoronei. Como um rapaz que tinha medo de todo mundo de repente é tomado daquela força? Parecia uma força maligna. Vivo rezando e pedindo por todos, pelas famílias vitimadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...