segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cuba festeja centenário de nascimento de poeta homossexual

Cuba vai pagar uma das suas "maiores dívidas culturais", ao celebrar o centenário do nascimento do poeta e dramaturgo Virgilio Piñera (1912-1979), que foi marginalizado devido à sua homossexualidade, informou hoje o jornal oficial Granma.
Segundo o órgão do Partido Comunista cubano, algumas obras do escritor vão ser reeditadas e diversos textos inéditos publicados.
Virgilio Piñera, dramaturgo, poeta, romancista e crítico, morreu aos 67 anos, devido a uma crise cardíaca, em completo isolamento editorial e público. Várias personalidades literárias cubanas foram marginalizadas por causa da sua homossexualidade nos anos 70, numa altura em que o regime de Fidel Castro enviava os homossexuais para campos de reeducação.

DN Globo

Autor de renome continental, mais conhecido como dramaturgo e narrador do que como poeta, a obra de Piñera se caracteriza pelo absurdo, pela descontração e pela expressão conversacional *. Na década de 1940, integrou-se ao grupo de Orígenes, tomando-se uma espécie de franco-atirador das posições existencialistas, e produzindo, já em Las furias (1941), uma poesia impregnada de originalidade. Radicou-se na Argentina, até época próxima ao triunfo da Revolução. De regresso a Cuba, Piñera publicou La vida entera (1969), que reúne o essencial da sua criação lírica. Postumamente, apareceu Una broma colosal (1988). Alguns de seus poemas publicados de maneira dispersa, e outros poemas inéditos aguardam compilação em livro. Para a geração dos poetas coloquialistas, "Vida de Flora" representa a culminação dos dotes criativos do autor. Nesse poema, Virgilio coloca no papel de heroína uma passadeira**, cantada não pelos seus olhos nem pelos seus lábios de mulata tropical, mas sim pelos seus pés grandes, já que Piñera gos­tava de ressaltar a enormidade em tudo.
N. do T: Conversacional": ainda que esta palavra não esteja dicionarizada em português nem em espanhol. resolvemos conservá-la por tratar-se de expressão específica de terminologia literária de Cuba.
N. do T.: "Passadeira" - mulher que passa roupa a ferro.

UN DUQUE DE ALBA

A Lezama
Por más de veinte años
un duque de Alba
permaneció echado en su cama.
Entre la mugre de sus detritus
y la lepra de un amor desdichado,
veía salir el sol y ponerse,
veía, como una tumba más, la noche.
El aire mefítico que respiraba
mezclado venía con la fragancia
de los azahares de su amada.
A este duque de Alba, tan feliz,
lo envidiamos noblemente,
nosotros, en edad asolada
por la tecnocracia y la desconfianza.
Este duque de Alba tenía un solo
pensamiento, una idea, pero suya.
Lo iba gastando,
y al mismo tiempo enriquecía.
Pero nosotros, en varias camas,
con mugres y millones de lepras,
entre planes y simulaciones,
ya no sufrimos nada.
Nos permiten tomar pastillas,
y callar.

1972. (De: Una broma colosal, 1988)
Extraídos de VINTE POETAS CUBANOS DO SÉCULO XX; seleção, prefácio e notas de Virgilio López Lemus. Trad. Alai Garcia Diniz, Luizete Guimarães Barros. Florianópolis:Editora de UFSC, 1995.

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