Neste sábado, Xuxa completa 25 anos de Rede Globo como uma apresentadora infantil deslocada entre adultos. A última tentativa de estabelecer contato aqueles que foram seus fãs, no Twitter, revelou-se um fiasco
Rodrigo Levino/VEJA
Desde 1986 no ar com programas infanto-juvenis, a apresentadora de TV ajudou a moldar o formato no Brasil e se transformou no principal ícone do gênero.
Durante gravação do programa em comemoração aos 25 anos da Xuxa na Rede Globo, a apresentadora se emocionou com o casal Márcio e Roberta que se conheceram no programa da Xuxa, 2011 - Estevam Avellar/TV Globo
A decadência, como não podia deixar de ser, tem tons trágicos. Em meados dos anos 1980, quando se iniciou a transformação de Xuxa em âncora de programas infantis, definindo o formato e moldando a sua imagem ao gênero que escolhera, a seara infantil estava estagnada. É fato que a adequação da ex-modelo e atriz de Amor, Estranho Amor (Walter Hugo Khouri, 1982) à imagem de tutora das crianças se deu na medida do possível, haja vista as roupas sensuais que usava e difundia. Mas o mercado estava parado e o caminho, portanto, aberto para a loira esbelta e saltitante, metida em um par de botas longas, com voz infantilizada e apelo sexual. Com carisma e trejeitos ensaiados, Xuxa fez escola e se tornou ícone de uma época da programação infantojuvenil.É possível dizer que em seus primeiros tempos de Globo a apresentadora, oriunda da TV Manchete, onde começou carreira em 1983 sob a direção de Mauricio Sherman, atuava em um esquema de multiplataforma. Sua própria imagem, os assistentes de palco (paquitas e paquitos), o léxico cuidadosamente escolhido, as músicas criadas, as roupas e os filmes compunham juntos um perfeito produto de cultura pop, autorreferente e pronto para ser consumido. Assim era o Show da Xuxa, futurista e encantado.
O encanto se manteve até meados dos anos 1990, manejado com mão de ferro pela produtora Marlene Mattos. Mas, à medida que os “baixinhos” cresceram, Xuxa envelheceu e o acesso a novas formas de entretenimento aumentou, a relação entre a estrela e seu público foi se esgarçando.Quando em 1998 o parto de sua filha única, Sasha, ocupou intermináveis 10 minutos em um jornal da emissora, ficou evidente que algo desafinava. O ícone expôs uma face de excesso e, porque não, bizarrice.Daí em diante, superprotegida, reclusa em uma mansão que pouco deve a Neverland, o esquisito rancho do cantor Michael Jackson, Xuxa sedimentou a imagem da tia deslocada e meio estranha. As botas e as bermudas diminutas deram lugar a um guarda-roupa predominantemente branco, com peças que mais lembram as de um clérigo. Na grade da Globo, ela patinou de sábado a domingo em programas como Xuxa Park e Planeta Xuxa, todos encerrados como fiascos de audiência.As vendas e a bilheteria de milhões de produtos como o LP Xou da Xuxa Vol. 3, lançado em 1988 (5 milhões de cópias vendidas), e Lua de Cristal, filme de 1990 (5 milhões de espectadores), murcharam para centenas de milhares. Nada desprezível para a realidade atual, principalmente no mercado de música. Todavia, sintoma de um raio de atuação cada vez menor: crianças de no máximo 6 anos de idade, ainda aprendendo a cantar e falar, que se divertem com a série Xuxa Só Para Baixinhos, sem grandes elaborações intelectuais. Foi o que restou.A apresentadora ainda tentou reaver contato com a geração que viu crescer, utilizando uma ferramenta típica do tempo que não conseguiu acompanhar. Mas trocou os pés pelas mãos. No Twitter, em 2009, ela teve de lidar com algo que, ao que parece, não esperava que existisse: críticos. Vítima de piadas cruéis na internet, que envolviam a ela e à filha, Xuxa abandonou o microblog cheia de mágoa. "Fui, vcs não merecem falar comigo nem com meu anjo", sentenciou, apartando-se de vez da geração que praticamente criou pela TV.
A reação foi uma versão mais crua de como é tratada na própria emissora. Com o atual TV Xuxa, a apresentadora nunca chegou a dez pontos de audiência. Não à toa, nos últimos cinco anos, teve de ceder seu horário para a transmissão de jogos e corridas esportivas. É uma sorte que a data escolhida para comemorar a efeméride de 25 anos na Globo não coincida com algo do tipo.
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