segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Donos de parque serão indiciados por homicídio doloso, diz delegada

Jovem de 17 anos morreu após carrinho se soltar de brinquedo no Rio. Engenheiro do Crea vistoriou local nesta manhã e verificou irregularidades.

Do G1 RJ



A delegada Adriana Belém, titular da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), afirmou, nesta segunda-feira (15), que vai indiciar os donos do parque onde uma adolescente de 17 anos morreu, no fim de semana, por homicídio doloso, quando há intenção de matar. A decisão de mudar o indiciamento de homicídio culposo para doloso veio depois que uma vistoria feita nesta manhã apontou diversas irregularidades no parque.
"Não descarto indiciar também outras pessoas. Vamos ouvir o engenheiro responsável, mas os donos serão sim indiciados por homicídio doloso", disse a delegada ao G1.
Irregularidades
Segundo um engenheiro mecânico do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ), o brinquedo Tufão, que causou a morte de Alessandra, era o que estava mais mal conservado. Um carrinho se soltou e atingiu Alessandra quando ela estava na bilheteria. Outras oito pessoas ficaram feridas.Segundo o engenheiro, todos os outros carrinhos também estavam prestes a se soltar. “O carro quebrou. A base dele ficou fixa pelo suporte e ele quebrou por fadiga, por ruptura da parte de fibra de vidro, que nós verificamos em todos os carrinhos, que estão praticamente na mesma iminência desse rompimento que aconteceu”, afirmou ele.O especialista constatou ainda outros problemas, como a instalação elétrica do parque, feita de forma irregular. “Eles fizeram a alimentação da parte elétrica de todo o parque através de um quadro que foi conectado na rede de distribuição sem nenhuma caixa disjuntora, sem nenhum relógio medidor. Normalmente, nós chamamos isso de gato. Foi feita uma instalação improvisada que coloca em risco a segurança de todas as pessoas que estiverem no parque”.Em outro brinquedo, o engenheiro também verificou no desgaste do equipamento. Num terceiro brinquedo, destino a crianças, o engenheiro também encontrou irregularidades. “Esse local onde as crianças sentam está fixa de forma precária e improvisada no que seria os chassis do veículo. Então, a qualquer momento, pode se soltar e as crianças podem cair, dependendo da velocidade, do peso e da aceleração do brinquedo. E todos os carrinhos estão nas mesmas condições, funcionando de forma precária”, enfatizou ele.
Crea-RJ apura responsabilidades
Agora, a Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea-RJ vai se reunir para apurar as responsabilidades pelo acidente. O Crea-RJ quer saber se o profissional que assinou a liberação do parque era habilitado para o serviço.“Primeiro, vamos verificar se ele tinha habilitação para tal, se era engenheiro mecânico, que é a profissão que pode fazer uma autorização para o funcionamento do parque. Depois, vamos verificar se ele emitiu uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Tendo feito esses dois procedimentos, nós vamos seguir em uma investigação para apurar responsabilidade técnica. Ele poderá ser colocado na Comissão de Ética e ser responsabilizado se for apurada a responsabilidade dele por ter emitido a ART para o funcionamento do parque nessas condições que estamos verificando”, ressaltou o engenheiro.O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ já sabe o nome do engenheiro mecânico que deu a autorização para o funcionamento do parque. A Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) foi emitida no dia 28 de julho para o funcionamento do parque nos fins de semana de agosto. O parque havia funcionado no dia 5 e neste último fim de semana, quando ocorreu o acidente. O engenheiro que deu a ART vai ser ouvido para explicar por que deu a autorização. O parque também tinha uma autorização do Corpo de Bombeiros.
Parque já era investigado em caso de homicídio culposo
De acordo com a delegada Adriana Belém, não é a primeira vez que acontecem acidentes no parque de diversões investigado. “Já descobri, inclusive, a ocorrência de um homicídio culposo, em 2006, além de vários procedimentos de lesão corporal por acidentes ocorridos neste mesmo parque”, disse a delegada.
Em 2006, o parque ficava no bairro da Abolição, no subúrbio do Rio, e um adolescente, chamado Róbson da Costa, de 14 anos, morreu. Outras duas crianças ficaram feridas, em 2008. “Com a constatação de que não havia a menor possibilidade de este parque estar funcionando, vamos mudar a tipificação”, afirmou a delegada, reiterando que vai mudar a tipificação do crime de homicídio culposo para homicídio doloso.
“Um representante do Ministério Público está acompanhando a perícia. E já temos esse posicionamento: nem o parque, nem o brinquedo tinham condições de estar funcionando”, finalizou Adriana.
O Crea-RJ informou que vai se reunir no fim da tarde para discutir a questão da responsabilidade técnica do engenheiro que fez a vistoria no parque. De acordo com os bombeiros, a corporação é responsável pela vistoria das saídas de emergência, capacidade de lotação e a localização dos extintores de incêndio. A autorização foi dada no dia 3 de agosto, com validade até o dia 28.
Adriana Barreto da Silva (Foto: Lílian Quaino/G1)A mãe de Adriana no enterro (Foto: Lílian Quaino/G1)
O corpo de Alessandra foi enterrado nesta manhã no Cemitério de Inhaúma, no subúrbio. A mãe de Alessandra, Adriana Barreto da Silva, muito transtornada, gritava “Parque maldito, matou a minha Lelê”.
Jovens dizem que 5 estavam em carrinho
Dois jovens que estavam no brinquedo que despecou do alto foram ouvidos pelo G1 nesta manhã. Eles confirmaram que cinco pessoas estavam no carrinho. A delegada investiga se o excesso de peso causou o acidente. Segundo ela, o carrinho comporta quatro pessoas. Já ouvido pela polícia, um dos responsáveis pelo parque, afirmou que eram quatro no brinquedo.“Éramos cinco no carrinho. Eu, o Leandro, o Marlon, o Romário e o Guarabira, que ainda tá internado. O funcionário pegou os ingressos e deixou a gente entrar numa boa. Ele não falou nada. Mudo estava e mudo ficou”, contou o auxiliar administrativo Luciano Ferreira dos Santos, de 29 anos.Com 26 anos, o auxiliar de pedreiro Leandro da Conceição também estava no carrinho. Ele diz que também ouviu um estalo antes de cair do alto. Segundo ele, em nenhum momento o funcionário do parque impediu os cinco jovens de entrarem no brinquedo. “Ele não falou nada”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...