quinta-feira, 26 de abril de 2012

Michelle Williams recria Marilyn Monroe sem tentar imitá-la em "Sete dias com Marilyn"

Neusa Barbosa*
Do Cineweb, em São Paulo

  • Michelle Williams em cena de Sete Dias com Marilyn, de Simon Curtis Michelle Williams em cena de "Sete Dias com Marilyn", de Simon Curtis
Atriz refinada nos detalhes, Michelle Williams não comete, em "Sete dias com Marilyn", o erro de tentar imitar Marilyn Monroe - a deusa única e irrepetível, em sua beleza e destino trágico. Por isso, acerta em cheio na recriação do essencial desta personagem que ocupa há 50 anos o imaginário do público e os mais diversos espaços midiáticos com seu ícone imediatamente reconhecível, mas quase nunca decifrado. A atriz recebeu sua terceira indicação ao Oscar pelo papel.
Fora a delicadeza de nuances da interpretação de Michelle - cuja fragilidade física não sugeriria, à primeira vista, que desse conta de encarnar a carnalidade de Marilyn -, ajuda muito que a via de acesso à sua história tenha sido o livro de memórias de Colin Clark (1932-2002), "Minha Semana com Marilyn". Jovem aristocrata, Colin (Eddie Redmayne) tirou a sorte grande, em seu primeiro trabalho profissional no cinema, ao receber como um presente do destino a missão de assistente pessoal da diva, em viagem à Inglaterra para atuar em "O Príncipe Encantado" (1957).
Combinando com fluência essas duas vertentes, a verdadeira incorporação da atriz por sua intérprete e o encantamento de seu jovem auxiliar, extraindo várias nuances de humor no meio do caminho, o filme do diretor e produtor britânico Simon Curtis contorna os clichês e se transforma numa jornada de redescoberta. Da história de Marilyn, de Colin e do próprio público, que pode sintonizar nas entrelinhas algumas emoções de um primeiro amor - como na sequência que apresenta uma travessura da estrela, escapando ao trabalho com o assistente, para uma divertida visita a uma escola, seguida por um mergulho num lago.Outra nuance devidamente bem utilizada no roteiro de Adrian Hodges é a tensão do veterano ator Laurence Olivier (encarnado com cinismo histriônico por Kenneth Branagh) diante da diva, cuja exuberante sexualidade o desconcerta quase tanto quanto sua dificuldade em decorar as falas, o que atrasa perfidamente o cronograma da filmagem. Uma atração que a mulher de Olivier, Vivien Leigh (Julia Ormond), assiste cinicamente conformada.

Michelle Williams ficou incrivelmente parecida com Marilyn no longa  Divulgação
A chave do filme é uma assumida dualidade. Em primeiro lugar, da própria Marilyn, devorada por uma insegurança atroz, que a levava a carregar por toda parte um séquito de supostos protetores, como sua treinadora de atuação, Paula Strasberg (Zoë Wanamaker). Essa divisão íntima da estrela despertava nas pessoas que a amavam a ilusão de que podiam salvá-la, que contagiou também o jovem Colin. Num segundo momento, essa ilusão sucumbia à assustadora constatação da ciranda infernal de emoções da atriz, um sentimento que afugentou seus maridos, como o dramaturgo Arthur Miller (Dougray Scott) - retratado no filme como um homem frio e distante - e o próprio Colin.
Com o encanto dos admiradores transformado em medo, Marilyn prosseguiu, entregue a uma apavorante solidão, aos próprios fantasmas e aos remédios que minaram sua resistência. A política, que pode ou não ter tido algum papel em sua morte precoce, em 1962, aos 36 anos, não é objeto deste ótimo filme, que aborda um outro tempo.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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