Sites comercializam brinquedos eróticos para
casais católicos, protestantes, judeus e muçulmanos. Mas nem tudo é
permitido: só é vendido aquilo que não fere os preceitos das religiões
Paula Rocha
Sites comercializam brinquedos eróticos para casais católicos,
protestantes, judeus e muçulmanos. Mas nem tudo é permitido:
só é vendido aquilo que não fere os preceitos das religiões
Sexo e religião combinam? Na opinião de alguns empresários do mundo
virtual, a resposta é um sonoro “sim”. A mistura de desejos carnais com a
devoção a uma doutrina religiosa tem se mostrado lucrativa para os
donos de sex shops religiosos. O que à primeira vista parece ser um
contrassenso, na verdade, se trata do mais novo filão explorado pelo
mercado erótico. Sites que comercializam produtos sensuais (e sexuais)
especialmente para casais cristãos, judeus ou muçulmanos estão fazendo
sucesso na web. A diferença de um sex shop religioso para um
convencional reside na discrição. Na versão mais puritana desse tipo de
comércio, pornografia, textos de baixo calão e embalagens com imagens
ofensivas (leia-se: com nudez ou representações do ato sexual) estão
proibidos, independentemente da orientação religiosa. Em vez de apelar
para a linguagem sexy, os produtos são exibidos em seções cuidadosamente
batizadas de Good Vibrations (boas vibrações), Intimacy Aids (aliados
da intimidade) ou Enrichment Products (produtos enriquecedores). Apesar
do tom suave, no entanto, o inventário desses sites lembra muito o de um
sex shop pagão. Vibradores, géis lubrificantes e lingeries não faltam.
Só não estão presentes alguns itens que poderiam atentar contra as leis
de moral de cada religião .Um dos primeiros sex shops voltados ao público cristão, o Covenant Spice
(tempero combinado, em tradução livre), vende centenas de produtos
eróticos por mês. Fundada por um casal católico dos Estados Unidos, a
loja tem como objetivo “oferecer acessórios sensuais divertidos e de
alta qualidade que permitam a casais cristãos expressarem todo o amor e
comprometimento que compartilham”, segundo o texto publicado no site.
Desde o seu surgimento no mundo virtual, contudo, outras iniciativas
similares começaram a ganhar popularidade. É o caso dos sex shops
Hookin’ Up Holy (namorando de forma sagrada) e Intimacy of Eden
(intimidade do éden), também cristãos, da loja voltada ao público judeu
Kosher Sex Toys (brinquedos sexuais kosher) e do empreendimento
direcionado a seguidores do islamismo intitulado El Asira (a sociedade,
em árabe). Em comum, todos têm como público-alvo discípulos
heterossexuais e oficialmente casados.
TEMPERO VIRTUAL
Sites como Kosher Sex Toys (judeu), Hookin’Up Holy e Covenant Spice (cristãos) e El Asira (islâmico)
oferecem acessórios para incrementar as relações sexuais
Para o sheik Jihad Hassan Hammadeh, presidente do conselho de ética
da União Nacional das Entidades Islâmicas do Brasil, sites como o El
Asira podem trazer benefícios a casais que professam o islamismo, desde
que não haja incentivo à promiscuidade ou à imoralidade. “É natural que
homens e mulheres busquem uma vida sexual saudável e isso é
imprescindível para um bom matrimônio”, diz Hammadeh. O sheik explica
que, dentro da religião islâmica, o sexo não é um tabu, pois a educação
sexual faz parte da formação de meninos e meninas. “Segundo o Alcorão, o
sexo só deve ser realizado dentro do casamento, mas ele não tem como
objetivo apenas a reprodução. O prazer, tanto do homem quanto da mulher,
é muito importante.”
Na opinião do rabino Ruben Sternschein, da Congregação Israelita
Paulista, são positivas todas as iniciativas que busquem fortalecer os
vínculos entre as pessoas em geral. “Agora, se brinquedos de sex shop
fortalecem a união entre um homem e uma mulher que se amam, vai depender
de cada casal”, afirma Sternschein, que explica que a tradição judaica
não entra em detalhes sobre a intimidade sexual dos casais. “Usar ou não
contraceptivos ou optar ou não por determinadas práticas sexuais
depende de cada linha do judaísmo.” Já na visão do padre Márcio Fabri
dos Anjos, doutor em teologia moral pela Pontifícia Universidade
Gregoriana de Roma (Itália), a boa relação entre duas pessoas dentro da
instituição do casamento está mais relacionada ao respeito mútuo do que
ao uso de objetos. “Me parece que esses sites têm como objetivo oferecer
um produto de consumo, que não é o caminho para uma boa relação
sexual”, diz Anjos.
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