"Conheci o Wilton em 1964, quando vim do Ceará para o Rio de Janeiro. Ficamos muito amigos desde então. Ele entrou para a história da TV brasileira como redator, diretor e criador", afirmou à Folha, o intérprete de Didi Mocó.
Lili Martins - 26.nov.99/Folhapress
O diretor Wilton Franco orienta criança durante gravação do programa "Pequenos Brilhantes", do SBT, em 1999
Segundo Aragão, sua relação com o diretor era próxima, mesmo com Franco vivendo nos últimos dez anos em Penha (SC), onde atuava como conselheiro do parque Beto Carrero World. "Conversei com ele recentemente sobre os animais do parque. Ele era muito dedicado a tudo o que fazia."
O presidente do Beto Carrero World também lamentou a morte. "Vai fazer muita falta para todos nós. Ficam agora seus ensinamentos e conselhos. Ele foi como um avô pra mim. Eu o chamava carinhosamente de voinho", divulgou em nota.
Morreu na manhã deste sábado (13) Wilton Franco, 82, vítima de um derrame, em Penha, em Santa Catarina.
Criador do programa "Os Trapalhões", na antiga TV Excelsior, e diretor e apresentador do polêmico programa "O Povo na TV" (da então Tupi e depois SBT), Franco passou mal em casa e não resistiu enquanto era transportado para o pronto socorro da cidade no norte catarinense. Ele teve um princípio de AVC (acidente vascular cerebral).
Wilton Franco trabalhava havia dez anos como conselheiro do parque Beto Carrero World. Seu velório vai ser realizado a partir das 17h, na capela mortuária de Penha --anexo ao cemitério da cidade. Ele será cremado no domingo (14), no crematório Vaticano, em Balneário Camboriu, também em Santa Catarina, a partir das 9h.
O diretor Wilton Franco orienta criança durante gravação do programa "Pequenos Brilhantes", do SBT, em 1999
Franco também criou, em 1965, o programa "Essa Gente Inocente", na TV Excelsior. Também dirigiu o programa de Hebe Camargo na TV Tupi entre 1974 e 1975. Na mesma emissora, foi diretor do programa "Aqui e Agora", no fim dos anos 70.
No final daquela década e no início dos anos 1980, "O Povo na TV" fez sucesso e provocou polêmica ao levar o "mundo cão" para a tela da TV. No que talvez tenha sido o episódio mais controverso da carreira de Wilton Franco, o programa exibiu a morte, ao vivo, de uma menina de 9 meses, enquanto a mãe falava da dificuldade para conseguir atendimento em hospitais públicos.
Ali ganharam notoriedade também apresentadores como Wagner Montes, Sergio Mallandro e Cristina Rocha, além do então "advogado dos pobres" Roberto Jefferson --atual presidente do PTB, delator do escândalo do mensalão e condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção passiva no caso.
Franco foi responsável pela direção-geral de "Os Trapalhões" quando o programa começou a ser transmitido ao vivo, em 1988, e ficou no cargo até 1992. No fim dos anos 90, dirigiu "Pequenos Brilhantes" no SBT --programa nos moldes de seu "Essa Gente Inocente". Em meados dos anos 2000, foi diretor de "Dedé e o Comando Maluco" na mesma emissora.
"O Povo na TV" foi pioneiro na apelação para o mundo cão
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Em 1979, a Rede Tupi agonizava. À tarde, reprises de desenhos e filmes não atraíam anunciantes nem telespectadores. Foi quando um dos diretores, Wilton Franco, propôs ocupar toda a faixa vespertina com um programa ao vivo dito "de prestação de serviços".Ele reuniu um time de apresentadores, entre os quais o ex-galã de fotonovelas e amigo da polícia Wagner Montes, Cristina Rocha e Sérgio Mallandro. Havia até um curandeiro, Roberto Lengruber, preso depois por charlatanismo. Nascia "A Voz do Povo na TV", versão revista e ampliada do que Jacinto Figueira Jr., em seus sapatos brancos, fizera nos anos 60.
O diretor Wilton Franco orienta criança durante gravação do programa "Pequenos Brilhantes", do SBT, em 1999
Deu certo. Acostumado a uma televisão sem opinião e sem calor humano, o telespectador achou que aquela pantomima pseudo-assistencialista e demagógica era a redenção dos desvalidos.
Em pouco tempo, o faturamento da Tupi aumentou 20 vezes no horário. Silvio Santos, sempre atento ao popularesco, levou a trupe para sua recém-criada emissora; a Bandeirantes produziu uma cópia da atração.
Agora, 22 anos depois, a fórmula continua atual. Enquanto houver pessoas desesperadas, desassistidas e com a auto-estima destroçada, o "povo" estará sempre na televisão.
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