Toda a vez que se une os temas sexo e religião, tem-se muito pano pra manga.
Mas no programa 'Amor e Sexo' desta quinta-feira (4) foi uma funcionária da produção quem acabou roubando a cena.
foto ilustrativa
"Por que a gente tem que identificar o travesti com a prostituição?", perguntou o padre Juarez de Castro em meio à discussão do tema. "Pela dificuldade que eles têm de arrumar emprego...", respondeu a apresentadora Fernanda Lima. "Mas há muitos travestis que não se prostituem", afirmou o padre. "Existem", retrucou Fernanda, "mas é uma minoria que consegue".Para dar um exemplo, Fernanda Lima chama ao palco uma funcionária da produção do seu programa, Bárbara Aires. E a teoria deu voz à realidade.
"Eu sou uma transexual pré-operação", declarou Bárbara, "ainda não fiz a redesignação sexual por motivos pessoais". Então ela pede licença para discordar do padre Juarez e conta que tentou durante muito tempo arranjar um emprego antes de se prostituir e não foi aceita em nenhum.
O ator Otaviano Costa lhe perguntou se ela estava contente com o que estava ganhando atualmente. "Eu hoje estou ganhando um quinto do que eu ganhava como profissional do sexo. Mas sei que isso é só um começo", confessou Bárbara.
O jornalista Xico Sá quis saber se a sua relação com a família tinha mudado depois que arranjou emprego na Globo. "Não mudou", respondeu objetivamente a funcionária. "Meu pai não fala comigo...se perguntam de mim ele fala que eu morri. Tem pessoas da família que falam, outras que não falam. O que muda a tua aceitação no núcleo familiar é a tua sexualidade", assegurou Bárbara.
"Se você é um menino, mas na realidade não é um menino porque se sente uma mulher, as pessoas não entendem isso. Então eles te expulsam daquele núcleo porque você vai ser a vergonha da família, o motivo de chacota da família", desabafou Bárbara.
"Eu nunca ouvi ninguém comentando, nem homem nem mulher, que tinha saído com um travesti, nem pagando, nem namorando", interpelou Léo Jaime. "Então tem uma dificuldade de
se colocar profissionalmente assim como de ser aceita afetivamente, tanto na família quanto namorando?!", questionou o músico.
"Eu sou meio romântica demais", confidenciou Bárbara. "Eu achava que o maior complicador para que eu não tivesse um parceiro fosse o fato de eu viver no mercado do sexo. Mas agora, eu tô trabalhando aqui (na Rede Globo), tenho carteira assinada e posso ter orgulho do que faço (antes eu sempre mentia quando perguntavam) - mas isso não mudou, continua a mesma coisa", acrescentou a transex.
"Essa visão que a sociedade tem que sair com travesti, gostar e namorar um travesti é proibido, é crime, a família não aceita... ainda continua. Infelizmente, os convites que a gente tem são sempre furtivos, na calada da noite...". "Quando tudo o que tu queria era, na verdade, ir no cinema de mãos dadas!", comenta Fernanda Lima. "Exatamente", concorda a sua funcionária.
"Eu acho que eu não vou ver isso enquanto jovem...mas espero que, pelo menos na minha velhice, eu consiga ver a sociedade aceitando a realidade que eu vivo hoje, havendo uma integração familiar...sem as dificuldades todas, sem precisar passar por todos os percalços que eu passei", conclui Bárbara Aires.
Natural de Porto Alegre, formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Veio para São Paulo e ingressou na Escola de Arte Dramática (USP), formando-se ator. Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Fez algumas colaborações para a Ilustrada e, sempre a convite, assinou a coluna Antena, da "Contigo". Nesse meio tempo, fez crítica de teatro para o "Jornal da Tarde" e na rádio Eldorado AM. Mais recentemente foi colunista da Folha.com, comentando o BBB11. Atualmente, além de atuar, cursa Filosofia.
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