segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Prestes a completar 70 anos, Marília Pêra faz um balanço de sua carreira

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Marília Pêra completa 70 anos amanhã às gargalhadas, colocando os cabelos tingidos de loiro para reluzir nos dois papéis cômicos que desempenha atualmente. Na TV, faz a maquiadora de defuntos Darlene, da série "Pé na Cova", que estreia na quinta na Globo. No teatro, é Dolly, casamenteira de salões de alta classe, protagonista do musical "Alô, Dolly!". O espetáculo, em cartaz no Rio, chega a São Paulo em março. A unir os dois trabalhos está o deboche de Miguel Falabella. O ator, que atua em ambas as produções, assina o roteiro do seriado e a direção-geral do musical. Marília chega aos 70 enérgica, portanto, e interessada em manter um diálogo com plateias vastas, escondendo sob as cortinas do entretenimento puro um passado entrelaçado a peças políticas e ao interesse permanente de estudar com disciplina canto, dança e interpretação. Em entrevista à Folha, ela lembra que descende de família de artistas e foi criada em coxias. "Durante a infância, tive a oportunidade de assistir a Dulcina [de Moraes] e [Henriette] Morineau, minhas mestras; Dulcina mais na comédia, e Morineau, em dramas e tragédias." Ainda no início de sua carreira, em "My Fair Lady" (1961), contracenou com Bibi Ferreira e Paulo Autran.

Eram os primeiros passos para uma trajetória diversificada, com passagens brilhantes pelo cinema -caso de "Pixote", de Hector Babenco- e pela televisão -como em"Brega & Chique", novela da Globo. Nos anos 1960, foi presa três vezes, conta. Tornou-se notório o episódio em que, por seu trabalho em "Roda Viva", foi obrigada a atravessar nua um corredor polonês, no teatro paulistano em que era encenada a peça de Chico Buarque dirigida por José Celso. "Não tinha ideia de que corria riscos naqueles níveis", analisa. "Foi a primeira vez que o jogo político me deu um tapa na cara". Cecilia Acioli/Folhapress A atriz Marília Pêra, que completa 70 anos nesta terça-feira
OUTROS TEMPOS
Marília disse que pensava em comemorar seus 70 anos em uma gafieira, mas desistiu da ideia para poder decorar falas de "Pé na Cova". Se sobrar tempo, pretende jantar com seu marido, o economista Bruno Faria, sua mãe e amigos, entre eles seu advogado, Roberto Halbouti, o coreógrafo Paulo Argueles e a escritora Nélida Piñon. "Bem lentamente", conta ainda, ela começa a escrever suas memórias. "Sem prazo, contando um pouco de tudo, principalmente sobre bastidores da televisão e do teatro, universos riquíssimos". Ao dizer a palavra "riquíssimos", ela sorri, tomando o cuidado de tornar claro que conhece histórias secretas. "Queria fazer um 'stand-up' em que contasse tudo, mas não sei se terei coragem". Se Marília enfrentar as reservas, talvez o público passe a conhecer melhor um ou outro atrito com colegas. Questionada sobre sua relação com Marco Nanini, por exemplo, ela observa o repórter em silêncio e desfere: "Isso é uma pegadinha". Ela se esquiva de comentar o desentendimento com Nanini, que dirigiu em "O Mistério de Irma Vap". A peça, que tinha ainda Ney Latorraca, foi um dos maiores sucessos do teatro nacional, ficando 12 anos em cartaz. Do mesmo modo, corta a tentativa da reportagem de ouvi-la sobre Marcelo Médici, que dirigiu no remake do espetáculo. Jorge Takla, que a dirigiu em quatro peças, entre elas "Mademoiselle Chanel" diz que Marília tem personalidade "complexa" e se joga em seus trabalhos "sem rede de proteção". "Quando acerta, é com genialidade, quando erra, faz de maneira grandiosa." Ele a considera uma das "maiores atrizes do mundo". Babenco compartilha com a atriz a projeção internacional que alcançou com "Pixote". "O filme não seria o que é se não fosse ela no papel." Para Marília, fazer 70 anos traz vantagens e desvantagens: "O bom é que você já tem consciência da morte, e ela não vai te pegar desprevenido; o ruim é que, consciente dela, passa-se a tratar a vida com muita cerimônia." Alguns traços, no entanto, não mudam com a idade. "Sou desarmada, mais ouço do que falo, o que faz de mim uma vítima auditiva." Com alguma nostalgia, diz ter saudade de quando a TV era "menos cinema e mais teatro". "Eu me divertia mais", diz, lembrando "Brega & Chique". "Foi um período em que se podia sentir mais os trabalhos dos atores de teatro na TV. Tudo está agora nas mãos de quem dirige e edita."
ALÔ, DOLLY!
QUANDO qui. e sex., às 21h, sáb., às 18h e 21h30; dom, às 19h; até 24/2
ONDE teatro Oi Casa Grande (r. Afrânio de Melo Franco, 290, Leblon; tel. 0/xx/21/2511-0800) QUANTO de R$ 50 a R$ 190
CLASSIFICAÇÃO dez anos
NA TV Pé na Cova Estreia da série
QUANDO quinta, às 23h, na Globo
CLASSIFICAÇÃO não informada

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