À primeira vista, "Splice - A Nova Espécie" pode ser confundido com mais uma ficção científica extravagante, com cientistas egocêntricos e mutantes humanóides. Embora o seja parcialmente, o diretor norte-americano Vincenzo Natali (de "Cubo"), depois de uma gestação de uma década, assina a história, roteiro e direção de um filme que está mais para drama familiar do que para thriller convencional.
Feita a devida ressalva, Natali traz às telas uma trama tão bizarra quanto a aparência da figura chave desta produção. Clive (Adrien Brody, vencedor do Oscar de melhor ator por "O Pianista") e Elsa (Sarah Polley, do comovente "Minha Vida sem Mim") são um casal de jovens cientistas, que pesquisam como curar doenças genéticas, nem que para isso criem novas formas de vida.Quando a direção da empresa nega o pedido da dupla para fazer experimentos com DNA humano, contrariada, Elsa age por si e, num misto de ciência e acaso, cria Dren (Delphine Chaneac), um anagrama para a expressão em inglês "nerd". Aliás, os nomes dos protagonistas, Elsa e Clive, também têm significados. Aqui, uma homenagem ao "A Noiva de Frankestein" (1935), no qual os atores Colin Clive e Elsa Lanchester interpretaram Dr. Frankenstein e Mary Wollstonecraft Shelley, respectivamente.Não demora muito para a situação tornar-se insustentável . Como o crescimento da criatura é acelerado e imprevisível, o casal deve escondê-la a todo o custo. Embora, a princípio, Clive seja contra o experimento, que o faz até tentar matar Dren, ele concorda com Elsa sobre a necessidade de salvá-la.O que Clive começa e perceber - tal como o espectador - é que Elsa cria um bizarro laço maternal com a criatura. Em determinado momento, ele a questiona: "Por que você a criou, em primeiro lugar? Pelo bem da humanidade? Você nunca quis uma criança normal porque tinha medo de perder o controle."A relação do trio passa a ser cada vez mais peculiar e Natali trabalha em um cenário carregado de referências como infância problemática, tensão do relacionamento dos pais sob os olhos de uma criança, conceitos de família e incesto. Natali une de forma um tanto caótica todos esses temas, praticamente jogados na tela, cabendo à dupla Brody e Polly tentar evitar que a história descambe para o absurdo, fronteira que o filme ameaça atravessar o tempo todo.
Dividindo opiniões por onde passa, "Splice - A Nova Espécie" tem o mérito de tentar ideias novas, para sair das fórmulas convencionais do gênero. O problema é que grande parte dessas invenções dá tão errado quanto a criatura Dren. Um dos erros mais visíveis de Vincenzo Natali, aqui, é a pouca atenção às transformações sofridas por seus personagens no decorrer do caminho. Depois de demorar mais de 10 anos para conseguir produzir este filme à sua maneira, esta falha é incompreensível.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
Nenhum comentário:
Postar um comentário