Campinas caiu no ranking do indicador de escolaridade do Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) entre 2006 e 2008. A situação escolar da cidade piorou entre os dois períodos, passando da 534ª para a 545ª posição entre os 645 municípios do Estado, segundo os primeiros resultados da sexta edição do índice divulgados pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Instituto do Legislativo Paulista da Assembleia Legislativa do Estado. Excesso de alunos nas salas de aula pode ser um dos problemas apontados pela baixa colocação.
Os dados referem-se tanto aos alunos da rede estadual quanto aos da rede municipal. O Seade ainda não explicou os motivos da queda na cidade, mas deve divulgá-los em abril. Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), a queda de 11 posições no ranking deve-se à municipalização do ensino em Campinas e à matrícula conjunta entre Estado e município. 'O fato é que a Prefeitura está assumindo algumas escolas estaduais desde 2005' , disse Suely Fátima de Oliveira, diretora estadual do sindicato. Apesar de não ser considerada municipalização por parte da Prefeitura, Suely aponta que a ingresso de alunos de algumas escolas estaduais na rede municipal tem prejudicado o ensino dos alunos. 'As salas estão cada vez mais lotadas, seja no município ou no Estado, comportando de 25 até 50 estudantes em alguns casos pontuais. A redução é urgente' , contou a diretora. Ela aponta que é preciso melhorar a infraestrutura e a qualificação profissional dos professores para melhorar o aprendizado das crianças. A matrícula conjunta ocorre apenas entre a 1ª e 4ª séries.
'É um amontado de crianças que têm dificuldade de atenção e, para o professor, é humanamente impossível trabalhar com qualidade' , destacou Suely. Muitos profissionais da educação estão cada vez mais doentes e há famílias que, inclusive, estão impedindo os filhos de estudar porque não há vagas em escolas próximas da residência (ver matéria nesta página). O fato tem ocorrido no Jardim Campo Belo. 'A educação está muito precária no nossa bairro' , afirmou o presidente da Associação de Moradores, José Honorato dos Santos.
O secretário municipal de Educação, José Tadeu Jorge, informou no meio da tarde de ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que só irá comentar os dados depois de analisá-los com cautela. A Secretaria de Estado da Educação, por meio da assessoria de imprensa, disse que não comenta estudos de outros órgãos que não sejam do Estado.
Indicador
A análise da escolaridade levou em consideração a porcentagem de estudantes de 15 a 17 anos que concluíram o ensino fundamental; os de 15 a 17 anos com pelo menos quatro anos de estudo; os de 18 a 19 anos que concluíram o ensino médio; e a taxa de atendimento à pré-escola entre crianças de 5 a 6 anos. Desde 2000, a fundação divulga, a pedido da Assembleia, o indicador que busca expressar o grau de desenvolvimento social e econômico dos municípios paulistas. O indicador de escolaridade conta com dados provenientes dos Censos Demográficos produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e informações do Censo Escolar, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão pertencente ao Ministério da Educação (MEC). Para a professora Angela Soligo, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os números são muito discrepantes.
Retranca
A babá Rosemeire Bezerra Teles, de 35 anos, tomou uma atitude radical. Sem conseguir uma vaga para a filha Tayná Teles de Oliveira em uma escola estadual próxima de sua casa, no Jardim Campo Belo 1, em Campinas, ela proibiu a menina de estudar. Desde julho do ano passado, a jovem de 13 anos não frequenta mais a escola do bairro Nova Europa. 'Ela tem que pegar dois ônibus para ir e voltar. Sei que os jovens têm usado droga neste ônibus e não há monitor no veículo' , disse. A menina, que estudava na 6ª série, está triste pois sonha em fazer faculdade de Pedagogia. 'O ônibus é uma baderna e eu tirei ela da escola porque não quero perder minha filha. Hoje em dia está muito difícil criar os filhos longe da gente' , afirmou Rosemeire. A mãe pleiteia uma vaga em uma escola próxima do bairro, mas sempre é informada pela diretora que não há vagas para a garota. Rosemeire conta que há outras crianças na mesma situação de Tayná. O presidente da Associação de Moradores do bairro, José Honorato dos Santos, conta que outras mães tomaram a mesma atitude que Rosemeire. 'A maioria dos pais trabalha o dia todo e tem medo de deixar os filhos longe, utilizando o transporte coletivo que é cedido pela Prefeitura' , contou. Moradores do bairro, na última semana, fizeram protesto pela falta de monitor, de veículos e de segurança nos transportes. Cerca de 300 crianças deixaram de ir à escola por falta de ônibus. A região administrativa de Campinas, composta por 90 cidades, subiu no ranking do Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) entre 2006 e 2008. A região alcançou uma posição nos quesitos longevidade e riqueza municipal (ocupando as terceiras posições), mas manteve-se na décima colocação no indicador de educação entre as 15 regiões administrativas do Estado de São Paulo. O IPRS é composto de três dimensões - riqueza, escolaridade e longevidade -, que sinalizam a evolução das condições de vida dos 645 municípios do Estado de São Paulo.
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