Jornalista brasileiro lança livro no qual revê produções do cinema mundial com personagens homossexuais e bissexuais. São mais de 270 produzidos entre o fim de década de 40 até 2009
DANILO CASALETTI/ÉPOCA
ÉPOCA - Qual foi o critério que você usou? Muitos dos filmes que você listou não receberam a classificação propriamente de “gays”...
Stevan Lekitsch – A temática tinha que girar em torno das quatro letras (LGBT). Há também algumas curiosidades que reuni, como filmes que têm diretores e elencos gays. Por exemplo, eu cito Festim diabólico (Alfred Hitchcock, 1948), que apesar de ter sido baseado na história real de um casal gay, no filme, esse “detalhe” foi sublimado.
ÉPOCA - No livro, você cita Instinto Selvagem, por causa do envolvimento que a personagem de Sharon Stone tem com mulheres. Muitos espectadores talvez nunca tenham feita essa associação. Você acha que o público tolera mais cenas entre duas mulheres do que entre dois homens?
Stevan – Com certeza. É um fetiche masculino. Todo o homem que eu conheço tem essa curiosidade de ver ou de participar de uma transa com duas mulheres. Nem homens e nem mulheres têm interesse em ver dois homens juntos. É uma herança cultural da nossa sociedade.
ÉPOCA - No cinema brasileiro dos anos 70 e 80, nas famosas “pornochanchadas” eram muito comuns personagens gays ou bissexuais. Os atores sempre fizeram esse tipo de cena. Atualmente, parece que isso causa mais repercussão, como, por exemplo, o beijo de Rodrigo Santoro e Gero Camilo em Carandiru (2003). Por que isso acontece?
Stevan – São mudanças de valores. Na década de 70, era tudo muito liberal. Era o fim da repressão sexual. Todo mundo era de todo mundo. Outro fator importante é que, antes, o acesso a esses filmes era mais difícil. Depois, veio uma questão meio moralista. A moral começou a ser consertada. Alguns atores ficaram com certo receio de suas carreiras serem prejudicadas. Em Hollywood isso também aconteceu. Tom Hanks exitou em aceitar o papel de um homossexual em Filadélfia (1993). Depois que viram que isso não afeta em nada a carreira, grandes atores começaram a aceitar personagens gays. É o que está acontecendo atualmente nas novelas brasileiras.
ÉPOCA – Mas o beijo gay masculino nas novelas ainda é tabu...
Stevan – É, mas acho que, em breve, teremos surpresas. O assunto está em pauta. Não vai demorar muito.
Stevan Lekitsch – A temática tinha que girar em torno das quatro letras (LGBT). Há também algumas curiosidades que reuni, como filmes que têm diretores e elencos gays. Por exemplo, eu cito Festim diabólico (Alfred Hitchcock, 1948), que apesar de ter sido baseado na história real de um casal gay, no filme, esse “detalhe” foi sublimado.
ÉPOCA - No livro, você cita Instinto Selvagem, por causa do envolvimento que a personagem de Sharon Stone tem com mulheres. Muitos espectadores talvez nunca tenham feita essa associação. Você acha que o público tolera mais cenas entre duas mulheres do que entre dois homens?
Stevan – Com certeza. É um fetiche masculino. Todo o homem que eu conheço tem essa curiosidade de ver ou de participar de uma transa com duas mulheres. Nem homens e nem mulheres têm interesse em ver dois homens juntos. É uma herança cultural da nossa sociedade.
ÉPOCA - No cinema brasileiro dos anos 70 e 80, nas famosas “pornochanchadas” eram muito comuns personagens gays ou bissexuais. Os atores sempre fizeram esse tipo de cena. Atualmente, parece que isso causa mais repercussão, como, por exemplo, o beijo de Rodrigo Santoro e Gero Camilo em Carandiru (2003). Por que isso acontece?
Stevan – São mudanças de valores. Na década de 70, era tudo muito liberal. Era o fim da repressão sexual. Todo mundo era de todo mundo. Outro fator importante é que, antes, o acesso a esses filmes era mais difícil. Depois, veio uma questão meio moralista. A moral começou a ser consertada. Alguns atores ficaram com certo receio de suas carreiras serem prejudicadas. Em Hollywood isso também aconteceu. Tom Hanks exitou em aceitar o papel de um homossexual em Filadélfia (1993). Depois que viram que isso não afeta em nada a carreira, grandes atores começaram a aceitar personagens gays. É o que está acontecendo atualmente nas novelas brasileiras.
ÉPOCA – Mas o beijo gay masculino nas novelas ainda é tabu...
Stevan – É, mas acho que, em breve, teremos surpresas. O assunto está em pauta. Não vai demorar muito.
- Você acha importante a TV aberta exibir filmes como O segredo de Brokeback Mountain, Carandiru, Filadélfia?
Stevan – Com certeza. Quanto mais você fala no assunto, mais as pessoas ficam acostumadas com ele. Fazendo um paralelo bem ruim, é a mesma coisa quando os programas mostram a violência exaustivamente. As pessoas acabam se acostumando com ela. Fica normal, banal. Para mim, esse é o caminho. Para isso, é preciso passar pelo processo da escandalização.
ÉPOCA – É esse processo que estamos vivendo atualmente?
Stevan – Acho que estamos no fim da fase de escandalização. Daqui a pouco vira normal.
ÉPOCA - Galã de cinema pode ser assumidamente gay? Por que ainda existe esse tabu por parte deles?
Stevan – Lá fora, muitos atores já “saíram do armário” (assumiram-se). Aqui ainda é complicado. Ninguém quer se assumir. A própria mídia faz uma pressão para que isso não aconteça.
ÉPOCA - Alguns filmes com temática LGBT ficam restritos a alguns circuitos ou cinemas mais alternativos. Mesmo a decisão final de assistir sendo do espectador, os exibidores têm certo preconceito com relação a filmes com essa temática?
Stevan - A questão é mais comercial. Quando eles sabem que o filme é direcionado a um público mais específico, eles colocam em menos salas. Com O Segredo de Brokeback Mountain, aconteceu o seguinte: ele começou em poucas salas e virou um sucesso. Aí, sim, foi exibido em mais lugares. É preciso também divulgar mais os filmes gays. Tem público para isso.
ÉPOCA – O segredo de Brokeback Mountain acabou virando um símbolo para os gays?
Stevan – Virou um exemplo porque é o sonho de todo o gay encontrar um cara másculo, inteligente. Todo mundo quer arranjar um Heath Ledger na vida. Mas acho um filme meio complicado. De certa forma, ele passa um mau exemplo. Fala de um homem casado que trai a mulher com um outro homem. Sabemos que isso acontece, mas o filme confunde quem está tentando entender algo. Imagina que um cara que é casado, que está em dúvida, vai pensar se ele deve manter a vida que leva ou arrumar uma casinha na montanha para encontrar com seu amante. Não é esse o caminho.
ÉPOCA - Este ano a Parada Gay de São Paulo acontece em meio à aprovação da união estável, mas também de uma onda de homofobia manifestada por políticos e líderes religiosos. Você acha que há mais motivos para comemorar ou protestar?
Stevan – Temos muitos há comemorar. Por incrível que pareça, o Brasil é um dos países mais avançados no que diz respeito aos direitos e à proteção dos homossexuais. O país também tem um dos melhores programas de prevenção da aids. Porém, temos muito a consertar. No Brasil, dois homossexuais são assassinados por dia. O projeto de criminalização da homofobia precisa ser aprovado. Não podemos descansar. Os gays não sabem fazer pressão para esses assuntos.
ÉPOCA - A Parada muitas vezes é vista apenas como uma grande festa. Não acha que está na hora de resultados concretos?
Stevan – Juntar cinco milhões de pessoas para fazer uma festa a gente consegue, mas juntar cinco milhões para exigir a aprovação de uma lei a gente não consegue. É uma questão de união. Os gays são desunidos politicamente. Falta articulação para fazer pressão. A bancada evangélica é muito bem articulada. Eles conseguem eleger quem eles querem. Os gays precisam marcar seu território também na política.
ÉPOCA
Stevan – Com certeza. Quanto mais você fala no assunto, mais as pessoas ficam acostumadas com ele. Fazendo um paralelo bem ruim, é a mesma coisa quando os programas mostram a violência exaustivamente. As pessoas acabam se acostumando com ela. Fica normal, banal. Para mim, esse é o caminho. Para isso, é preciso passar pelo processo da escandalização.
ÉPOCA – É esse processo que estamos vivendo atualmente?
Stevan – Acho que estamos no fim da fase de escandalização. Daqui a pouco vira normal.
ÉPOCA - Galã de cinema pode ser assumidamente gay? Por que ainda existe esse tabu por parte deles?
Stevan – Lá fora, muitos atores já “saíram do armário” (assumiram-se). Aqui ainda é complicado. Ninguém quer se assumir. A própria mídia faz uma pressão para que isso não aconteça.
ÉPOCA - Alguns filmes com temática LGBT ficam restritos a alguns circuitos ou cinemas mais alternativos. Mesmo a decisão final de assistir sendo do espectador, os exibidores têm certo preconceito com relação a filmes com essa temática?
Stevan - A questão é mais comercial. Quando eles sabem que o filme é direcionado a um público mais específico, eles colocam em menos salas. Com O Segredo de Brokeback Mountain, aconteceu o seguinte: ele começou em poucas salas e virou um sucesso. Aí, sim, foi exibido em mais lugares. É preciso também divulgar mais os filmes gays. Tem público para isso.
ÉPOCA – O segredo de Brokeback Mountain acabou virando um símbolo para os gays?
Stevan – Virou um exemplo porque é o sonho de todo o gay encontrar um cara másculo, inteligente. Todo mundo quer arranjar um Heath Ledger na vida. Mas acho um filme meio complicado. De certa forma, ele passa um mau exemplo. Fala de um homem casado que trai a mulher com um outro homem. Sabemos que isso acontece, mas o filme confunde quem está tentando entender algo. Imagina que um cara que é casado, que está em dúvida, vai pensar se ele deve manter a vida que leva ou arrumar uma casinha na montanha para encontrar com seu amante. Não é esse o caminho.
ÉPOCA - Este ano a Parada Gay de São Paulo acontece em meio à aprovação da união estável, mas também de uma onda de homofobia manifestada por políticos e líderes religiosos. Você acha que há mais motivos para comemorar ou protestar?
Stevan – Temos muitos há comemorar. Por incrível que pareça, o Brasil é um dos países mais avançados no que diz respeito aos direitos e à proteção dos homossexuais. O país também tem um dos melhores programas de prevenção da aids. Porém, temos muito a consertar. No Brasil, dois homossexuais são assassinados por dia. O projeto de criminalização da homofobia precisa ser aprovado. Não podemos descansar. Os gays não sabem fazer pressão para esses assuntos.
ÉPOCA - A Parada muitas vezes é vista apenas como uma grande festa. Não acha que está na hora de resultados concretos?
Stevan – Juntar cinco milhões de pessoas para fazer uma festa a gente consegue, mas juntar cinco milhões para exigir a aprovação de uma lei a gente não consegue. É uma questão de união. Os gays são desunidos politicamente. Falta articulação para fazer pressão. A bancada evangélica é muito bem articulada. Eles conseguem eleger quem eles querem. Os gays precisam marcar seu território também na política.

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