sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

TONY GOES-O exagero da censura ao DVD de Rafinha Bastos

Rafinha Bastos usou camisinha com efeito retardante. O resultado? Precisou internar o pênis na APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais).
E aí, achou graça? Eu também não. Nem por isto entrei com um processo.
Mas a APAE entrou. E ontem conseguiu uma liminar que proíbe a venda do DVD "A Arte do Insulto", que contém esta piada contada por Rafinha em seu show durante anos a fio. A APAE também conseguiu, é claro, que a tal piada fosse repetida em várias matérias sobre o caso.
Não há humorista em atividade no Brasil de hoje que não esteja sendo ameaçado por este ou aquele grupo. O Sindicato dos Metroviários de São Paulo quis tirar do ar a "Valéria" do "Zorra Total".
Entidades que cuidam de autistas exigiram que Marcelo Adnet se retratasse por causa de um esquete considerado ofensivo. Rafinha Bastos, então, deve estar deixando ricos seus advogados.
O brasileiro adora sua fama de povo irreverente, mas é inegável que estamos cada vez mais suscetíveis e mal-humorados. Ainda não nos acostumamos com o direito à livre expressão garantido pela nossa jovem democracia. A toda hora tentamos calar quem nos desagrada. Rafinha Bastos foi longe demais? Foi, inúmeras vezes. Mas o limite do humor, como disse Jô Soares em entrevista à revista "Rolling Stone", é o proprio humor. "O humor não peca quando é grosso: peca quando não tem graça". Bingo. Não existe humor a favor. O humor é sempre contra. É racista, homofóbico, preconceituoso, iconoclasta, nojento. O humor pode tudo - só não pode não ser engraçado.
"Ah, mas e se fosse com você? Se fosse com seu filho?" Não sei. Mas sei de uma coisa: passei a vida ouvindo piada de bicha. Algumas são revoltantes. Outras são ótimas, e eu faço questão de repetir.
A melhor arma contra um humorista não é a censura. É a indiferença. Quer que algum metido a engraçadinho deixe de fazer piadinhas incovenientes? Não ria, não vá a seus shows, espalhe por aí que o sujeito não tem graça. O caminho ao estrelato é pavimentado com os sonhos dos fracassados.
Agora, tirar de circulação um DVD lançado há quase um ano e que já vendeu 120 mil cópias, com diversos trechos que podem ser assistidos a qualquer momento na internet --aliás, que podem ser baixados de graça da internet, na mais alegre pirataria --é um delírio autoritário. Até bem-intencionado, mas equivocado: porque não só não dá certo, como causa um mal ainda maior do que o original.
Eu prefiro aguentar umas piadas desagradáveis de vez em quando do que ter alguém, seja lá quem for, determinando o que eu posso ou não ouvir. E você?
Tony Goes tem 50 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.

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