Vão longe os tempos em que a gente precisava esperar que um disco chegasse às lojas para poder ouvi-lo. O novo de Madonna, "MDNA" vazou ontem na internet, quase uma semana antes do lançamento oficial.
Na verdade, a própria Madonna estava revelando o CD aos poucos. Nas últimas semanas, trechinhos de várias faixas foram liberados por ela quase todos os dias. Uma tática esperta, para gerar comentários na blogosfera e se manter em evidência.Mas agora "MDNA" inteiro caiu na rede, e ouvi-lo de uma só vez é bem diferente do que ouvi-lo aos pedaços. A primeira sensação é a de que o disco é bom, mas sem um foco muito preciso.Madonna está tentando ser tudo ao mesmo tempo. Clássica e moderna, jovem e experiente, comercial e experimental. "MDNA" atira para todos os lados e não tem uma personalidade definida, ao contrário de trabalhos anteriores.Será por causa do excesso de produtores diferentes? Madge voltou a trabalhar com William Orbit, com quem fez "Ray of Light" - talvez seu melhor disco até hoje. Mas também chamou o italiano Benny Benassi, o francês Martin Solveig e muitos outros. Um verdadeiro balaio de gatos.
"MDNA" abre com a cantora pedindo perdão a Deus, antes de se jogar na animadíssima "Girl Gone Wild". É uma volta à Madonna blasfema dos anos 80, que gostava de provocar a Igreja Católica.
Mas as músicas seguintes são estranhas e sombrias. Não se parecem muito com nada do que ela gravou até hoje. Alguns fãs não vão gostar: aqui não há refrões fáceis para as pistas. Madonna se cerca de bases pesadas para lavar em público a roupa suja de seu casamento fracassado com Guy Ritchie.
Em "Gang Bang" ela simplesmente ameaça matá-lo com um tiro, e preferiu manter a faixa fora da versão "limpa" de "MDNA" (uma exigência de algumas lojas nos Estados Unidos) do que alterar a letra. Nunca soou tão amarga e agressiva.Mas aos poucos o clima vai desanuviando, até desembocar na saltitante "Give Me All Your Lovin'", a primeira música de trabalho. Daí para a frente ressurge a Madonna festeira, desencanada, de bem com a vida. Ainda me incomoda ela se referir a si mesma como "garota", aos 53 anos de idade, mas este é o lado divertido de sua personalidade, que domina as paradas de sucesso há quase três décadas.Aí chegamos à baladona "Masterpiece", que ela compôs para os créditos de seu filme "W.E.", absolutamente corriqueira. E daí para a frente a festa acabou: "MDNA" termina meio contemplativo, quase que de ressaca.
O título do disco tem triplo sentido: além de ser uma abreviatura do nome da cantora, também remete a DNA e a MDMA, o princípio ativo de drogas sintéticas como o ecstasy. Mas sua audição não provoca euforia: as faixas não têm unidade entre si e parecem ter sido gravadas em momentos diferentes da carreira de Madonna.
Ela ainda é a rainha do pop? Sim, além do mais porque, em 2012, não há muitas pretendentes ao seu trono. Lady Gaga, Britney, Rihanna, Adele, todas lançaram discos ano passado. Agora
a costa está livre. Mas um pouco mais de coesão poderia ter feito de "MDNA" um disco realmente majestoso.
Tony Goes tem 50 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.
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