THIAGO AZANHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um grupo de ativistas fará amanhã uma manifestação em São Roque (a 66 km de São Paulo) para protestar contra o uso de cães da raça beagle em testes feitos por um instituto que trabalha para farmacêuticas.
Os cães são usados em pesquisas de medicamentos que serão lançados. O objetivo é verificar a existência de possíveis reações adversas, como vômito, diarreia, perda de coordenação e até convulsões.
Editoria de arte/Folhapress |
Quando isso não é necessário, os cães são colocados para adoção, diz a empresa.
O Instituto Royal, alvo da manifestação, passou a ser investigado pelo Ministério Público de São Paulo, que recebeu denúncias de maus-tratos aos animais.
Ao menos 66 beagles são mantidos em canis. A maior parte deles é reprodutora dos filhotes que serão testados.
O Royal diz que, em breve, fornecerá animais para testes em outros institutos.
"Recebemos a denúncia de que esses animais são acondicionados em condições irregulares", afirma Wilson Velasco Jr., promotor do Meio Ambiente em São Roque.
Velasco Jr. esteve na empresa na terça para acompanhar vistoria de uma veterinária. Ele aguarda laudo da visita para decidir se chama o instituto para firmar um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) ou instaurar ação civil pública.
QUESTÃO POLÊMICA
O uso de cães em pesquisas é permitido e regulado por normas internacionais.
Protetores de animais, no entanto, questionam as normas. "As indústrias sequestram a vida dos animais, que nunca mais terão um comportamento normal", diz Vanice Teixeira Orlandi, presidente da União Internacional Protetora dos Animais.
Segundo o vice-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, Francisco Javier Hernandez Blazquez, os cães da raça beagle são os mais utilizados para experimentos no exterior, pois são animais de médio porte e já criados para a pesquisa.
No Brasil, ratos e camundongos são os bichos mais usados em pesquisas feitas em laboratórios.
"Todo e qualquer experimento realizado por docentes e pesquisadores em animais deve passar por uma comissão de ética para analisar se o animal sofrerá e qual a finalidade do projeto", diz.
O protesto, organizado pelo Facebook, já tem cerca de 300 pessoas confirmadas. Um comboio sairá de São Paulo às 9h, do Masp, na avenida Paulista, região central.
OUTRO LADO
O instituto Royal diz que segue todos os protocolos nacionais e internacionais voltados para pesquisas com animais em laboratórios.
Eles afirmam que são uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e que recebem verba de instituições públicas de fomento à pesquisa. O protocolo dos testes é aprovado por essas instituições antes de os estudos começarem.
O instituto diz ainda que os testes só são feitos nos cães depois de serem realizados em roedores. Por isso, os efeitos adversos apresentados nos beagles não são agudos.
Eles afirmam que sempre que a reação ao medicamento é constatada, um dos nove veterinários do local intervém.
A etapa da pesquisa em cães é a última antes de o medicamento passar a ser testado em voluntários humanos, de acordo com o Royal, que afirmou que os testes realizados nos cães não podem ser substituídos por técnicas in vitro (sem o uso de animais).
A empresa também negou que houvesse maus-tratos aos animais e abriu o espaço onde os beagles ficam para a reportagem.
Os cães são divididos em baias que contêm de três a quatro animais cada. O local estava limpo e climatizado no momento da visita da Folha.
Alguns beagles aparentavam estar assustados, tremiam e se afastavam ao verem as pessoas por perto. Outros se aproximavam da grade em busca de carinho. Muitos deles estavam obesos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário