domingo, 13 de fevereiro de 2011

Isabelita dos Patins, desapontada, deixa o carnaval do Rio após 40 anos

Drag queen desabafa, reclamando da falta de reconhecimento profissional.Ela vai receber cachê para desfilar em uma banda de Juiz de Fora.

Aluizio Freire Do G1 RJ
Isabelita dos Patins (Foto: Aluizio Freire)Isabelita, em casa, triste por não conseguir
patrocínio para a folia no Rio (Foto: Aluizio Freire/G1)
Isabelita dos Patins, uma das figuras mais divertidas do carnaval carioca, está triste. Sem patrocinadores para desfilar com sua fantasia e abalada com o incêndio na Cidade do Samba, que destruiu fantasias e carros alegóricos de sua escola preferida, a Grande Rio, ela pretende passar o carnaval fora do Rio, apesar de este ano completar 40 anos da criação do personagem que a eternizou como a drag queen mais popular da cidade.
"Só mesmo a garra dessa gente para levantar a escola depois de um estrago desses. Mas a Isabelita está triste e não quero comemorar nada aqui. São 40 anos de trabalho, divertindo as pessoas, fazendo com que essa cidade tenha uma cara feliz para recepcionar turistas, tratando as pessoas com carinho e respeito. Devo muito a esse público, mas,infelizmente, não sou tratada como uma profissional de entretenimento. Chega de fazer as coisas e levar um tapinha nas costas. Também tenho contas para pagar", reclama a drag queen, que vai receber cachê para desfilar em uma banda no carnaval de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
Orgulho de foto com Fernando Henrique
Na quarta-feira (9), com a cara limpa e sem aquelas roupas espalhafatosas que a tornaram famosa, quem recebeu o G1 em sua casa para falar do drama que atravessa neste carnaval foi o argentino Jorge Omar Iglesias, um senhor de 62 anos, que já sente algumas dores nas pernas ao fazer suas performances sobre os patins que ainda encantam crianças, adultos, artistas, jogadores e políticos, como Fernando Henrique Cardoso, cuja foto, em que aparece dando um beijo no rosto do ex-presidente, exibe com orgulho.
Isabelita dos Patins (Foto: Aluizio Freire)Isabelita mostra foto com o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (Foto: Aluizio Freire/G1)
"Foi uma pessoa que me tratou com respeito, carinho. Nunca senti um pingo de discriminação em seus gestos", diz, mostrando telegramas e cartões que costumava receber também de Dona Ruth sempre que felicitava o casal em festas de fim de ano e em seus aniversários.O apartamento de Isabelita, em um bairro da Zona Norte, é uma espécie de ateliê, museu e bazar. Nas paredes, quadros com pinturas do dono da casa, feitos por amigos admiradores, com sua indumentária carnavalesca e fotos, muitas fotos, ao lado de gente famosa e algumas celebridades. Guarda também presentes que considera relíquias, como um anel que recebeu da família de Carmen Miranda e objetos pessoais de Emilinha Borba.Seu ídolo é o ator performático Erick Barreto, morto em 1996, amigo que a ajudou a fazer a maquiagem perfeita que deu origem à identidade de Isabelita dos Patins e que hoje faz sucesso até no exterior.Ela mostra uma revista com fotos sobre sua participação em um festival na França, em que foi a principal estrela, desfilando pelas ruas de Lyon em um carro cor de rosa.
Uma boneca de luxo
Erick interpretou Carmen Miranda no cinema, no filme "Bananas is my business", numa caricatura perfeita da cantora.
Isabelita dos Patins (Foto: Aluizio Freire)Fotos com famosos e recortes de jornais
espalhados pela sala (Foto: Aluizio Freire/G1)
"Sou uma figura folclórica do carnaval, isso ninguém pode negar. Sempre fiz isso com muito amor pelas pessoas e ganhei um público que retribui tudo com muito carinho. Agora, preciso ser respeitado como um profissional. Vivo desse personagem que tem a cara do Rio e está fazendo 40 anos. Mas, até o momento, não recebi um convite sequer de trabalho", desabafa.Nesse período de folia, Isabelita diz que a única apresentação profissional garantida em sua agenda era a de leitura de um livro no Forte de Copacabana, na Zona Sul, para um público infantil.Jorge Iglesias, que na juventude participou de campeonatos de patins na Argentina, desfilou a primeira vez como Isabelita no carnaval de 1971."Criei uma boneca de luxo que se entregou inteira, com amor, paixão, e, no fim, veio a desilusão. É a vida", lamenta, com um misto de riso e choro disfarçados na face limpa.
Isabelita promete que depois do carnaval volta para sua casa, no Rio.

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