THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL de Cannes
Em entrevista para um pequeno grupo de jornalistas hoje em Mougins, a apenas 7 quilômetros de Cannes, o diretor dinamarquês Lars Von Trier já estava mais relaxado quanto a sua expulsão do Festival de Cannes, anunciada nesta quinta-feira pela direção do festival, por ter se declarado nazista em tom de brincadeira na entrevista coletiva de seu filme “Melancolia”. “Esse banimento é uma coisa da qual me orgulho. Tenho certeza que, se meus pais estivessem vivos, também estariam orgulhosos de mim.”Von Trier brincou sobre a expulsão. “Fiquei sabendo que tenho que manter uma distância de 100 metros do Palácio dos Festivais. No domingo, acho que vou ficar do lado de fora fazendo sinais para saber se o filme foi premiado.”
Estragando a própria festa
O cineasta reiterou mais uma vez que não tem convicções nazistas e que fez as declarações em tom de brincadeira, sem querer ofender ninguém. Para não correr o risco de novas polêmicas, ele decidiu que não quer mais participar de entrevistas coletivas. “Acabo de descobrir o que significa a expressão ‘estraguei minha própria festa’ (I pissed on my chips, em inglês). Eu fico nervoso e me ponho a falar o que não devo. Não falei isso pra machucar as pessoas. Essa situação está prejudicando meu filme e minha produtora.”Mas o diretor defendeu sua liberdade de expressão. “Mesmo que o cineasta seja um criminoso, seu filme precisa estar no festival. Eu disse que simpatizava com Hitler porque consigo entender sua figura humana. A melhor coisa do filme com o Bruno Ganz (o alemão A Queda! As Últimas Horas de Hitler, de 2004) é conseguir retratar Hitler como um ser humano. Sei que, para muitas pessoas é mais confortável pensar que a culpa é toda de Hitler, e que se ele não tivesse nascido, tudo teria se passado bem.”Uma curiosidade: Von Trier escreveu “Melancolia” tendo em mente Penélope Cruz no papel da noiva melancólica, mas a atriz não conseguiu conciliar sua agenda e teve que sair do projeto, como aconteceu com Nicole Kidman em “Manderlay”. Foi substituída por Kirsten Dunst, que foi recomendada a ele por Paul Thomas Anderson, diretor de “Magnólia” e “Sangue Negro”.
Pornô com história
No começo todo mundo achou que era mais uma de suas piadas, mas Von Trier está realmente engajado em fazer de seu próximo filme um pornô. A ideia é ter diversas atrizes de idades variadas encenando as experiências sexuais de uma mesma personagem da infância à velhice. A história será narrada pela mulher já mais velha, recordando suas lembranças. “Não consigo falar de erotismo sem mostrar penetração, acho que essa é uma parte fundamental da experiência erótica. Mas prometo que não será chato como os filmes eróticos que vemos na TV”.Segundo ele, seu desafio será envolver o espectador numa atmosfera de excitação diferente e mais forte do que os filmes pornôs comuns. Outra grande diferença: misturar o sexo carnal com reflexões sobre o mundo espiritual, entre elas um questionamento sobre as Igrejas no Ocidente e no Oriente, com “lampejos do Espírito Santo que transmitem uma sensação de satisfação espiritual”. Nem Deus sabe o que virá por aí, mas pode-se aguardar mais uma obra de gênio pela frente.
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