quinta-feira, 14 de julho de 2011

Em novo disco, Chico Buarque narra suas crônicas em canções delicadas de gêneros diversos; veja faixa-a-faixa

MARIANA TRAMONTINA
Editora-assistente de Entretenimento/UOL

  • Chico Buarque durante gravação do disco Chico (2011) Chico Buarque durante gravação do disco "Chico" (2011)
Chico Buarque sorri acanhado na capa de seu novo disco. A foto em preto e branco, escrito apenas "Chico", sugere um modelo de recato e melancolia em seu novo trabalho, que chega às lojas no próximo dia 22 de julho. Mas quem abre o digipack, admira-se ao deparar-se com tantas cores.As letras das composições aparecem embutidas numa paleta de 20 tons que enfeitam o encarte sem qualquer imagem. E a simplicidade da arte e do título de seu novo trabalho também colorem as dez canções que compõem "Chico", seu primeiro disco de inéditas desde "Carioca" (2006) --e do romance "Leite Derramado" (2009).
O álbum --que sai pela Biscoito Fino numa estratégia de divulgação online exclusiva para compradores do álbum em esquema de pré-venda, por R$ 29,90 no site www.chicobastidores.com.br-- traz as poesias e crônicas do compositor, escritor e poeta de 67 anos em canções suaves e delicadas, que desfilam em gêneros diversos e pouco lembram a capa melancólica do álbum. Há, sim, variações que se prestam a um caráter reflexivo, mas não necessariamente taciturnas. A já conhecida "Querido Diário", que desde 20 de junho circula pela internet, abre o álbum com os relatos de Chico sobre as pessoas que o cercam ("hoje topei com alguns conhecidos meus"), as disfunções sociais ("hoje a cidade acordou toda em contramão"), as aflições ("hoje pensei em ter religião"), as relações ("hoje afinal conheci o amor") e as pessoas que teme ("hoje o inimigo veio me espreitar"). "É um novo 'Cotidiano'", compara o próprio compositor com sua música de 1971.
  • Reprodução Capa do disco "Chico", de Chico Buarque (2011)
A marchinha de vanguarda "Rubato" (roubado, em italiano), parceria com Jorge Helder e acompanhada por uma banda de coreto, vem na sequência descrevendo o roubo de uma composição de amor que é reciclada para homenagear diferentes amantes, numa alusão à especulação sobre identidade e autoria de seu romance "Budapeste" (2003). "Venha ouvir sem mais demora/ a nossa música/ que estou roubando de outro compositor", ele canta.
O blues "Essa Pequena" introduz a paixão de um homem por uma moça mais nova, emoldurado por piano, violões, baixo acústico e violino. "Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas/ o blues já valeu a pena", comemora na letra. Em "Tipo Um Baião", Chico brinca com o andamento da canção ao recitar uma desilusão amorosa, e compara: "Meu coração/ que você sem pensar/ ora brinca de inflar/ ora esmaga/ igual que nem/ fole de acordeão/ tipo assim num baião/ do Gonzaga".A singela "Se Eu Soubesse", uma espécie de chanson française, traz Chico dividindo versos com a cantora curitibana Thais Gulin, de 30 anos, sua suposta nova namorada. "Ah, se eu pudesse não caía na tua/ conversa mole, outra vez/ não dava mole à tua pessoa", ele canta, até encontrar com a voz dela: "Mas acontece que eu sorri para ti/ e aí larari, lairiri, por aí". A parceria não é exatamente original: Chico já havia cedido a canção --até então inédita-- e sua participação para Thais lançar em seu segundo disco, "ôÔÔôôÔôÔ", que saiu em abril.


A faixa 6, "Sem Você 2", abre espaço para o andamento lasso jobiniano e a narração arrastada e triste de um amor que se foi. "Sem você/ é um silêncio tal/ que ouço uma nuvem/ a vagar no céu/ ou uma lágrima cair no chão/ mas não tem nada, não", diz Chico, aqui sim tomado pelo desalento, na música com menos de três minutos de duração.A tristeza é interrompida pelo samba de gafieira "Sou Eu", canção que Chico escreveu com Ivan Lins e deu a Diogo Nogueira para o disco do novato "Tô Fazendo a Minha Parte" (2009), e que agora ganha a voz do compositor. Aqui, Chico convida Wilson Neves para se gabar de que "sou eu/ só quem sabe dela sou eu/ quem joga o baralho sou eu/ quem brinca na área sou eu"."Nina", a valsa que ocupa a faixa 8 do álbum, fala de uma figura onírica na distante Moscou que incita o autor a viajar até a capital russa --ou ao menos a espiar a cidade em mapa virtual. "Nina diz que se quiser eu posso ver na tela/ a cidade, o bairro, a chaminé da casa dela", ele canta, levado por um percurso de acordeão, arrematado por um acorde dramático de piano.As confusões de memória do narrador de "Leite Derramado" recaem na graciosa "Barafunda". "Era Aurora/ Não, era Aurélia/ ou era Ariela/ não me lembro agora/ é a saia amarela daquele verão/ que roda até hoje na recordação", ele canta, lembrando que é carioca ("Foi na Penha/ não, foi na Glória"), evocando futebol ("Era Zizinho, era Pelé") e terminando na companhia de "É Garrincha, é Cartola e é Mandela".A canção mais longa do disco, "Sinhá", de quatro minutos, encerra o pouco mais de meia-hora de duração de "Chico" ao lado de João Bosco, num clima tão lírico quanto soturno da herança da escravidão permeado apenas por percussões e violões. "E assim vai se encerrar/ o conto de um cantor/ com voz do pelourinho/ e ares de senhor", despede-se Chico em preto e branco.

Sob críticas, Chico Buarque lança disco e ainda "manda no samba"

Portal TerraOsmar Portilho
"Quem manda no samba sou eu". O verso de Sou Eu, composição assinada ao lado de Ivan Lins, resume de alguma forma o espírito de Chico, novo álbum do compositor Chico Buarque, que tem previsão de lançamento para o dia 20 de julho. Neste aspecto, a frase pode cair como uma resposta do músico para as críticas que recebeu antes mesmo do disco chegar às prateleiras. Em um site criado para divulgar vídeos de bastidores e antecipar canções para quem efetuou a pré-venda deChico, a faixa Querido Diário, que abre o álbum, recebeu duras críticas. O verso "amar uma mulher sem orifício" virou motivo de piada na internet.
Chico conta com dez faixas: Querido Diário, Rubato,Essa Pequena, Tipo um Baião, Se Eu Soubesse, Sem Você 2, Sou Eu, Nina, Barafunda e Sinhá. Fica o destaque para as pitadas de modernização que o álbum ganha, mas sempre conduzidas na estrutura característica das composições de Chico.
Chico Buarque lança seu novo álbum neste mês
Chico Buarque lança seu novo álbum neste mês
Um exemplo disso vem explícito em Tipo um Baião, quando o compasso final ganha as distorções da guitarra do músico Frado, para finalizar a canção de forma inusitada com microfonias. "Não é um baião puro, é tipo um", explica o próprio Chico em um dos teasers divulgados em seu site (http://www.chicobastidores.com.br).na/ faixa seguinte, a já falada Se Eu Soubesse, onde chico divide os vocais com a competente Thais Gulin, que já chegou a ser apontada como possível affair do compositor. O jogo de vozes da dupla funciona na companhia da harpa de Cristina Braga e dos arranjos de clarinete de Paulo Sergio Santos.Na "cozinha" montada por Chico, fica o destaque para o trio Luiz Claudio Ramos (violão), Jorge Helder (baixo acústico) e João Rebouças (piano), sempre precisos.Mais um ponto alto do disco é Sem Você 2, uma homenagem para Tom Jobim e Vinícius de Moraes, que também assinam uma canção chamada Sem Você. Em um vídeo destes teasers divulgados por Chico, o nome com o "2" é para assumir a homenagem. A própria introdução da canção remete ao arranjo da faixa original.Outro nome presente no álbum é de João Bosco, que assina ao lado de Chico a canção Sinhá e divide os vocais com o compositor. "Chamei pro disco de cara. Ele me mandou essa música e eu fiquei com ela um tempo sem saber o que fazer. Ele tinha que estar na gravação porque o violão dele é único e tinha que ser aquele", explica Chico em outro trecho do vídeo.Com essas mesclas e passeios por outros gêneros, Chico sempre se mostra confortável com suas composições, principalmente na harmonia, sustentando suas melodias características. Em Barafunda, o próprio músico fala de seu amadurecimento como músico, carregada de bom humor baseando-se no seu esquecimento. "Foi na Penha/Não, foi na Glória/Gravei na Memória/Mas perdi a senha".
Com a capa em preto e branco e a arte interior com um amplo leque de cores, Chico também caminha por esse equilíbrio. Temas que podem ser melancólicos e monocromaticos, mas executados com uma alegria nítida vinda dessa necessidade do compositor.Chico será lançado no dia 20 de julho.

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