Destaque do "Dancing With The Stars", processo de transformação do músico demorou três anos
Por Flavia Faccini; Fotos Reprodução e Getty Images
Chaz Bono na infância, na adolescência e na idade adulta: mudança radical
“Desde criança eu tinha conhecimento de que uma parte de mim não se encaixava. No início, eu simplesmente achei que era gay e tentei de toda forma me encaixar em um estereótipo de lésbica, mas tive que admitir para mim mesmo que era algo muito mais complicado do que apenas minha orientação sexual”, conta.
Na infância, no colo da mãe, Cher
"Experimentei e não gostei"
Na adolescência, Chastity também não conseguia se relacionar com os garotos. “Eu nunca tive encontros como as outras meninas. Transei com um homem apenas uma vez”, revelou em entrevista ao programa de David Letterman.“As pessoas me diziam: ‘Como você sabe que não gosta de homens se você nunca experimentou?’ Então eu experimentei e não gostei”, completou.
A constatação trouxe ainda mais angústia ao músico, cantor, escritor e bacharel em direito. “Havia algo em mim que era mais profundo e ameaçador. Levei anos para colocar o dedo na ferida. Esta constatação não foi uma epifania repentina. Havia um monte de pequenos eventos que pareciam me levar a verdade. Mas a direção que estas coisas me apontavam era tão assustadora e desconcertante que eu fiz de tudo para negá-la. Tentei de tudo: drogas, relacionamentos fracassados, o isolamento – qualquer coisa que pudesse me afastar da verdade”, explicou.
Ao horror de viver em um corpo mulher, Chaz somou ainda o descontentamento da mãe, Cher. Musa da comunidade gay, a cantora não aceitou de pronto a decisão do filho. “Foi um longo processo até que ela se tornasse mais e mais confortável com a ideia. Tive medo de perdê-la."
“Eu precisei de um tempo para entender que ela não era apenas lésbica, mas uma pessoa completamente desconfortável com o corpo em que estava”, explicou Cher em entrevista a David Letterman. "O mais importante para mim é que ele está muito feliz", completou.
Três anos de transição
Em 2006, aos 37 anos, Chastity decidiu finalmente dar vida a Chaz. O processo de transição, que contou com acompanhamento psicológico, injeções de hormônio e cirurgia, levou três anos para ser concretizado e foi relatado no documentário “Becoming Chaz”. “Foi um processo de eliminação de uma série de medos que eu tinha na minha vida, especialmente por ser uma figura pública. Tinha muito medo da rejeição, e principalmente do que as outras pessoas pensariam de mim”, explica Chaz no documentário. Além do documentário, a transformação rendeu ainda um livro, chamado “Transição: A História de Como me Tornei Homem”. Na obra, Chaz relata peculiaridades do processo de mudança de sexo, como as transformações ocasionadas pelas injeções de testosterona, hormônio responsável pelo desenvolvimento e manutenção das características masculinas. Ao lado da mãe, Cher, na adolescência: "Transei com homem apenas uma vez"
“Meu pensamento se tornou mais linear, e eu provavelmente sou menos falante e mais orientado para a solução dos problemas agora. No meu íntimo, no entanto, continuo sendo a mesma pessoa, com as mesmas crenças e sistemas de valores”, afirmou o rapaz. “De certa forma, é como experimentar uma nova puberdade, com o crescimento dos pelos, a acne, o aumento do desejo sexual e tudo mais”, explicou.
Em maio de 2010, Chastity conseguiu finalmente legalizar a sua mudança de sexo e nome, passando a se chamar Chaz Salvatore Bono. O novo nome é uma homenagem ao pai, morto em 1998, cujo nome completo era Salvatore Phillip Bono.
Com a noiva, Jennifer Elia: "mais atraente que um homem"
Planos de casamento
A legalização do novo gênero e nome permitirá que Chaz dê mais um passo importante em sua vida. Em entrevista ao programa “Piers Morgan Tonight”, o escritor e músico contou que pretende se casar com a namorada, Jennifer Elia, com que está há cerca de seis anos. Dois anos atrás, o casal oficializou o noivado e o casamento deverá acontecer no próximo ano. Jennifer, que se define como bissexual, contou na mesma entrevista que acha Chaz “muito mais atraente que um homem” e que a mudança de gênero tornou o relacionamento sexual do casal muito melhor.
“Quando você tem um parceiro que está feliz na sua pele e contente de maneira geral, ao invés de deprimido e sentindo-se no corpo errado, tudo muda”, afirmou. Embora para melhor, a mudança não foi um processo simples para o casal. “Nós tivemos que reaprender várias coisas, inclusive como nos comunicarmos e vivermos juntos sob uma nova dinâmica”, completou. O bom momento pessoal foi coroado com uma nova proposta profissional. Em agosto, Chaz assinou contrato com a rede norte-americana ABC para se apresentar no “Dancing With The Stars” e tornou-se o primeiro transexual a participar da atração. A nova temporada do programa irá ao ar a partir de 19 de setembro e a luta do ativista GLBT agora é contra a balança: Chaz quer perder peso para ter mais agilidade durante as competições. “Vou dançar como sempre quis. Dançarei como homem, e com um par feminino”, contou ao jornal britânico “Daily Mail”.
Nova polêmica
Apesar da realização de poder se apresentar no programa como homem, Chaz enfrenta uma nova polêmica. De acordo com o site “TMZ”, tanto o público quanto alguns ativistas radicais são contrários à participação do músico no programa, sob a alegação de que o fato de Chaz ser transexual poderia “influenciar as crianças”. Nos fóruns dedicados ao programa, espectadores postaram mensagens raivosas classificando a escolha do filho de Cher para o elenco da atração de “nojenta” e dizendo que a rede ABC “deveria se envergonhar de incomodar os americanos e os cristãos”. Ao que parece, a polêmica não afetou o ânimo de Chaz, que respondeu às acusações em seu Twitter. “Os que me odeiam apenas me motivam a trabalhar mais para ficar no programa o máximo de tempo que eu conseguir”, concluiu.
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